Palavras de despedidas para quem parte ficando: DIMITRI.

por Edmilson Brito Rodrigues (*)
Em 1996 Belém transbordou águas vermelhas da esperança em dias melhores. Poucos de fora e mesmo de dentro do PT (partido que ajudamos a fundar e a fortalecer, mas que depois de se tornar grande foi abandonado por suas lideranças, que preferem o poder pelo poder, garantido à custa de alianças esdrúxulas com as velhas oligarquias, espalhando desesperanças, fazendo a população crer que a política iguala a todos e todas ao fedor da lama da violência, da corrupção, do desgoverno em favor dos ricos e que torna os pobres mais pobres, ao invés de valorizar a força de sua base militante, de lutadores e lutadoras, que por permanecerem dignos não têm vez nem voz dentro do partido ou dos espaços institucionais sob o seu comando).
Aquele rio vermelho de alegria cresceu durante 8 anos (1997-2004) de Governo do Povo. E esse rio transbordou, porque significou crença na participação do povo, no poder popular, na democracia feita pelos que sempre foram esquecidos pelo estado. Foram muitas as emoções, porque foram muitas as conquistas. E o próprio Governo do Povo mereceu conquistar o reconhecimento nacional e internacional, através de dezenas de prêmios, de que é possível governar dentro da ordem capitalista remando contra a maré, contra a ordem; que é possível, dentro dos limites da sociedade atual realizar experiências de construção do poder popular; QUE NENHUM GOVERNANTE, NINGUÉM EM NOME DO POVO, TEM O DIREITO DE VENDER A ALMA AO DIABO EM NOME DE UMA “GOVERNABILIDADE” QUE REPRESENTE MAIS DINHEIRO PÚBLICO DESVIADO PELA VALA DA CORRUPÇÃO, MENOS RECURSOS PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA, MENOS INVESTIMENTOS NA SAÚDE PÚBLICA E, POR ISSO, MAIS SOFRIMENTO E ABANDONO DOS MILHÕES E MILHÕES DE POBRES QUE NÃO TÊM ACESSO A PLANOS PRIVADOS DE SAÚDE, MAIS CRIANÇAS MORRENDO NA SANTA CASA, A DESPEITO DO EXCELENTE CORPO DE SERVIDORES PÚBLICOS QUE TRABALHAM NESSA INSTITUIÇÃO CENTENÁRIA, MAIS JOVENS NAS RUAS TORNANDO-SE PRESAS DO CRIME E DA VIOLÊNCIA.
Quando falamos em militantes valorosos, queremos homenagear aqueles que, nunca param de sonhar e ajudar a construir sonhos de felicidade. Ao longo de nossas vidas, temos convivido com muitas pessoas, que por serem movidas por sonhos, embalam esperanças e vitórias. Um valoroso exemplo de construtores de sonhos foi camarada DIMITI MARACAJÁ.
Sábado, dia 10 de julho de 2010, faleceu esse jovem sonhador. Resolveu levar poesia para os céus, o camarada DIMITRI.
Conheci o Dimitri como filho da Célia Maracajá, que além de grande atriz é amante de cinema e artesã dessa sétima arte, talvez o principal motivo de também ter-se apaixonado pelo Luiz Arnaldo Dias Campos (outro poeta das imagens que vive viajando em belas marés de céus).

Sabia falar com o coração através de sua guitarra
Já em 1996, o filho da Célia mostrou ter luz própria. Era, ainda, um curumim cabano, mas participou ativa e competentemente da equipe de comunicação que evocou o povo de Belém a ter Fé no que viria. No ano 2000, mais experiente e tendo desenvolvido novas habilidades técnicas, o DIMITR assumiu novos desafios na edição dos programas de TV que permitiram derrotar os coveiros de sonhos, que movidos pelo dinheiro sujo e pelos diplomas falsos, pretendiam cegar nosso povo e impedir mais 4 anos de lindas lutas e conquistas.
O camarada DIMITRI, além do domínio nas diversas áreas da comunicação social, sabia falar com o coração através de sua guitarra (com quem mantinha uma longa e eterna história de amor); explodia poesias; exalava ousadia ao compor músicas que fundiam suave e profundamente o rock com o carimbó, entre outras aventuras criativas de sua alma irrequieta. Não dá pra esquecer a banda Arcano XIX nos palcos dos festivais, das bienais internacionais de música de Belém; dos prêmios recebidos. Não dá para esquecer de sua participação no CD coletivo produzido pelo Otávio Rodrigues – Um Canto pela Paz – em homenagem ao Movimento dos Trabalhadores sem Terra. Só mesmo os artista que não emprestam seu talento aos opressores sabem o significado de usar a arte contra a violência do sistema, expressa em atos bárbaros como o Massacre de Eldorado dos Carajás. O Dimitri é um desses que está lá, cantando pelo futuro socialista, pelo mundo de justiça e paz.
Há pouco tempo, o Dimitri descobriu ser portador de um problema de saúde sério. Recebeu amor e atenção dos seus parentes e amigos, mas não resistiu. Quem sabe as injustiças do mundo que também o atingiram tenham feito o coração do poeta optar por não resistir.
Não é possível medir o tamanho da tristeza. Mas, há o consolo da certeza de que sua curta vida foi sinônimo de dignidade e de compromisso com o futuro feliz. Consola-nos, também, o fato de ele partir deixando um filho e uma bela obra poética e musical que o vai eternizar.
Por isso, choramos tua partida DIMITRI, mas festejamos tua eterna presença através do legado à história e da arte do povo cabano.
Célia e Luar, viva o Dimitri!

Edmilson Rodrigues é paraense, de Belém do Pará, professor, arquiteto, ex-prefeito de Belém e militante da luta popular pelo socialismo.

2 respostas para “Palavras de despedidas para quem parte ficando: DIMITRI.”

  1. Tivemos os mesmos sonhos “A MUSICA” compartilhamos por mais de 11 anos juntos, adeus um companheiro de sonhos e melodias retiradas do fundo da alma.

    ex-baixista e compositor (Arcano XIX).
    (91) 8869-9276

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