OBAMA MATOU OSAMA! CADEIA PARA ELE!

Por Fernando Carneiro (*)

E se um assassino fosse à televisão e confessasse: acabo de matar uma pessoa. Era uma pessoa má, já tinha matado e por isso mesmo não precisava ser julgada, não precisava se defender e muito menos pagar pelos seus erros em uma cadeia. Fui seu captor, seu juiz e seu algoz. E fiz tudo isso em 40 minutos usando dinheiro do povo na operação, que foi bastante dispendiosa.
Com certeza, juristas de todo o mundo e mesmo o povo leigo se revoltaria e exigiria a prisão do assassino confesso. Pois bem, guardadas algumas poucas proporções, foi isso que o presidente da nação mais poderosa do mundo, Barack Obama, fez. Em 10 anos de busca por Osama Bin Laden, os EUA gastarem não menos que R$ 1 trilhão de dólares, protagonizaram duas guerras e mataram milhares de inocentes. Um negócio de altíssima rentabilidade à poderosa indústria bélica americana.
Não sou adepto do terrorismo. Matar inocentes, crianças e idosos, como fez Bin Laden e como faz os EUA e seus aliados pelo mundo afora, é inaceitável. Mas alguma voz há que se levantar contra a arrogância yanque. Não é possível que os EUA continuem a agir como a polícia do mundo sem que brademos em alto e bom som que ninguém lhes outorgou essa prerrogativa. Num mundo como o nosso, profundamente cingido em classes sociais, cada vez mais antagonizadas, a violência tem um explícito e inequívoco conteúdo de classe. A violência perpetrada pelo estado mais poderoso do mundo tem um claro objetivo: manter e ampliar o poderio militar, político e econômico do império. Nós conhecemos bastante bem isso em nossas terras. À guisa de combater o tráfico de drogas o estado brasileiro realiza uma verdadeira faxina étnica que atinge principalmente jovens pobres e negros em nossas favelas e baixadas.
Matar um terrorista parece justificável aos olhos de muitos. Fazer sua execução sumária, perdoável. Bem, apliquemos isso então a casos semelhantes. Imaginemos se os militares latinoamericanos responsáveis por milhares de assassínios nos porões das diversas ditaduras que varreram nosso continente entre as décadas de 1960 e 1980, fossem justiçados sumariamente e tivessem seus corpos jogados em alto mar. Este seria um procedimento similar e que estaria plenamente justificado por essa lógica e pela ética da vingança presente no caso perpetrado pelo governo americano. Se militantes de esquerda tivessem o mesmo procedimento para com seus algozes é pouco provável que permanecem soltos ou que fossem saudados como heróis, como o foi Obama.
Até mesmo os nazistas, responsáveis pela morte de milhões de judeus, comunistas e socialistas, são tratados pela comunidade internacional como seres que têm direito a um julgamento. O precedente aberto na ação de terror de estado é muito perigoso. Melhor dizendo: não é um precedente, mas uma prática corriqueira para o imperialismo americano. O governo americano, a CIA e os militares americanos elegem seus inimigos, os caçam pelo mundo todo e os executam sem o menor respeito aos procedimentos jurídicos de defesa, mundialmente aceitos. Os EUA se arvoram estar acima das leis. Acima do julgamento popular, acima do bem e do mal. Nada mais hipócrita e distante da realidade.
Tão ou mais perigoso que essa ideologia é o júbilo que tomou conta de parcela importante da população norte-americana. Gritos incessantes de “U.S.A , U.S.A” ainda ecoam pelas ruas e estádios de beisebol e basquete nos EUA. Obama vai tentar usar esse prestígio para melhorar sua baixíssima popularidade. Esse talvez se torne o seu maio trunfo nas eleições presidenciais que se avizinham.
Obama, ao vir a público se vangloriar do assassinato de Bin Laden (e de alguns de seus familiares, inclusive um filho) se tornou um réu confesso. Cadeia para ele então.

Fernando Carneiro é historiador e dirigente do PSOL/PA.

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