Luiz Mário de Melo e Silva (*)
Emancipação é sinônimo de liberdade e jamais pode ficar a mercê de alguma autoridade ou líder. Por isso, é de imperiosa necessidade o plebiscito sobre a redivisão do Pará, onde há interesses e interesses em disputa – embora mais do mesmo sobressaia de maneira sutil.
Para os moradores dos espaços que pleiteiam as emancipações suas reivindicações são válidas, sobretudo quando se vêem sem a devida atenção que o estado tem por obrigação dar e não o faz talvez mais por incompetência que falta de estrutura, porque a corrupção que assola a máquina pública (vide escândalo da Alepa) tende a deixar desamparados os irmãos do “interior”, ainda mais por possuírem recursos naturais que podem auferir qualidade de vida a todos, se os mesmos trabalharem os recursos concomitante à valorização da biodiversidade.
Por outro lado, baseado na Constituição Federal, tal evento tem que ter a anuência de toda “população interessada”, ou seja, a população da capital Belém tem que ser consultada, por motivos óbvios. Até porque, se pensado como organismo vivo, conjunto ou grupo, estes jamais – como ninguém – desejarão perder partes de si sem emitir o mínimo de som, ruído, opinião, etc., a menos que estejam em estado de demência e sem condições de opinar conscientemente, o que não é o caso da população paraense. Portanto, ambas as partes têm argumentos para fazer valer seus interesses e “verdades”.
Todavia, em meio a aparente confusão que a ideia provoca, é necessário não perder de vista o grande interessado na questão que, como sempre, historicamente tende se apresentar como o demiurgo da sociedade. Ou seja: a elite.
Ora, está claro que a questão é entre elites econômicas que buscam, num processo de reestruturação de sua condição, aumentar sua área de atuação, aprimorando os mecanismos de dominação do povo.
Alguém tem dúvidas quanto à maneira em que o povo será levado a participar de tal decisão, sem que seja de sedução pela força ou medo, como é profissionalmente praticado pelas elites quando querem aprovar algo de seu interesse? Aliás, a história não apresenta nenhum caso em que o povo decidiu por si só seu destino.
No caso do Pará não é diferente dos demais. Assistiremos o mais do mesmo, ainda que possa parecer que o povo decidiu por sua liberdade. Até porque estruturas econômicas poderosíssimas têm interesses em controlar a questão da biodiversidade, entre outros recursos naturais, que essa parte da região amazônica detém.
Isto leva à ideia de que companhia como a Vale, por exemplo, pode estar, de alguma forma, incentivando a divisão, pois se isso se concretizar é provável que a empresa à semelhança da Igreja Católica Apostólica Romana, criadora do estado do Vaticano, crie para si algo de igual sentido com o estado de Carajás, o que seria infinitamente vantajoso para ela, pois as amarras burocráticas do estado seriam deixadas de lado, contribuindo para aumentar seu lucro, motivo de ser de todo empreendimento capitalista em detrimento a natureza.
Quanto à elite da capital só teria a lamentar caso ocorra a divisão, pois como alguém que usufrui do trabalho, logo, das riquezas produzidas pelas mãos dos trabalhadores e trabalhadoras do “interior” (colônias, como definem as elites para as cidades distantes dos centros financeiros), ela perderia sua fonte de exploração e manutenção de seus privilégios.
Como se vê, é a elite – a açougueira contumaz – que arma mais uma vez o circo da democracia para fazer valer sua vontade, no momento em que a modernidade burguesa se exauriu pela ação nefasta de sua “dama de ferro”, ou seja, a máquina industrial, levando junto seu sistema financeiro que agora atenta contra a Amazônia para fazer dela um meio para tentar continuar respirando.
Com a palavra, a inteligência, o discernimento de que a Amazônia é capaz de produzir seu próprio futuro, engendrar sua liberdade e ainda servir de ótimo exemplo para a humanidade com seu jeito e maneira de ser – ainda que para isso relegue ao esquecimento necessário a elite, e seu atual sistema de governo, falida, que, magarefe da história do povo, pretende repetir a história, agora como farsa.
Luiz Mário de Melo e Silva
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI)
luizmario_silva@yahoo.com.br
Icoaraci – Belém – Pará.