por Fernando Carneiro (*)
O povo brasileiro sabe que a corrupção corre solta em todas as esferas da vida pública de nosso país. Sabe também que o dinheiro que alimenta a corrupção deixa os serviços de saúde, educação, transporte, segurança, etc à míngua, sem verbas. O que até então não se sabia era o volume de dinheiro que a corrupção consome.
Segundo dados de 2010 da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), uma entidade patronal e que não tem o menor interesse em beneficiar o povo trabalhador, a corrupção consome nada menos que R$ 69 bilhões ao ano. Isso mesmo 69 bilhões de reais são desviados para o bolso de empresários e políticos corruptos. Isso corresponde a quase 2,5% de todo o PIB Brasileiro.
Para se ter uma idéia, esse dinheiro poderia dobrar o número de leitos em todo o país, permitiria a construção de 3 milhões moradia ou, se aplicado na educação, dobraria o número de vagas no ensino fundamental. Logo a luta contra a corrupção não é apenas uma questão ética. Lutar contra a corrupção é uma questão social. É indispensável para o estabelecimento de verdadeiras políticas publicas.
Aqui no Pará a corrupção produziu escândalos famosos. O caso da CERPASA e o da SUDAM, entre outros, revoltaram a população. Agora a lama atingiu nada mais nada menos que a casa de Leis do estado, a ALEPA. O rombo pode ter consumido mais de R$ 100 milhões. Por isso é fundamental que o Ministério Público Estadual siga firme nas investigações, mas o ideal seria aprovar o requerimento do deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-Pa) de CPI, pois só uma verdadeira investigação nas entranhas administrativas da ALEPA poderá revelar o esquema milionário de desvio de verbas públicas. Em Belém Duciomar fez da prefeitura em verdadeiro balcão de negócios entre seus amigos e familiares. Apesar de responder a dezenas de processos, segue impune.
Durante a época da ditadura militar a corrupção também grassava nas terras tupiniquins, só não se tornava pública. Hoje, com a democratização relativa das instituições brasileiras, os escândalos de corrupção, os corruptores e os corrompidos são conhecidos pelo grande público, o que já é um avanço. Mas enquanto não houver punição exemplar aos corruptos não nos daremos por satisfeitos. O povo já está cansado de ver os escândalos permanecerem impunes. Bandidos e corruptos são diariamente expostos nos jornais e na TV, mas dias depois estão novamente se beneficiando de dinheiro público, de nosso dinheiro.
Contudo engana-se quem pensa que a corrupção é uma excrescência do sistema capitalista. Ela é um componente fundante da lógica imposta pelo capital. Nesse sistema tudo vira mercadoria, inclusive a moral e a ética de muitos. Mas a corrupção não existe sem seu braço na política. Por isso a luta de Marinor Brito (PSOL-Pa) contra os Fichas-sujas é tão emblemática. Sua tenacidade simboliza a vontade do povo brasileiro em dizer um basta aos corruptos que vêem na política uma maneira de enriquecer às custas do dinheiro público.
Ao denunciar os esquemas de corrupção, Marinor incomoda muito aos poderosos e eles haverão de tentar desqualificá-la. Eles sempre fazem isso. Mas isso não vai abalar sua têmpera e sua determinação em seguir defendendo, em todos os espaços e com o vigor que lhe é característico, os interesses imediatos e históricos do povo brasileiro, em especial o do povo do Pará.
A hora agora é de dar um passo a mais na luta contra a corrupção. Não basta que os escândalos venham a público, não basta saber quem esconde dinheiro embaixo de colchão ou na cueca, a hora agora é de punir os corruptos, e para isso será indispensável a participação popular. Os raros exemplos de políticos honestos não conseguirão vencer o cerco que protege os corruptos. Um cerco que estende seus braços pelas esferas da administração pública e mesmo da justiça. Só a denúncia implacável e a pressão popular podem garantir que os culpados sejam punidos.
Fernando Carneiro é historiador e dirigente do PSOL/PA