Pronunciamento da senadora Marinor Brito sobre divisão do estado do Pará
“Sr. Presidente, Srs. Senadores e Senadoras, queria, antes de iniciar a minha comunicação inadiável, registrar a presença da Prefeita de Santarém, Drª Maria do Carmo, registrar também a presença do Presidente da Câmara Municipal de Santarém, o Vereador José Maria Tapajós, e uma comitiva que tem circulado aqui, no Congresso Nacional – quase todos os dias a gente cruza nos corredores com eles, já tive oportunidade de receber alguns –, que faz parte do movimento pela divisão do Estado de Tapajós. Eu não poderia deixar, na oportunidade de tê-los aqui no plenário, de explicitar a V. Exªs a minha posição com toda a coragem, com toda a ousadia que é peculiar da minha personalidade e da minha trajetória política.
Acabei de dar uma entrevista ao Brasil Econômico, sobre a questão da divisão do Estado do Pará. Sou da cidade de Alenquer, nasci na região do baixo e médio Amazonas do Tapajós e migrei aos oito anos de idade junto com minha família por falta de condições de sobrevivência naquela região, para poder ter o direito de estudar. Como eu, milhares de famílias fizeram esse processo migratório.
Eu tenho a tranqüilidade, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, de dizer que, na história do Pará, a trajetória política dos políticos do meu Estado, os governos que se sucederam são os grandes responsáveis pelo sentimento de separação que uma parcela significativa da população tem naquela região; um Estado com um patrimônio econômico, um potencial hídrico, um potencial energético, um potencial de florestas, um potencial mineral, um Estado que dá inveja para qualquer país do mundo, um Estado capaz de sustentar economicamente e financeiramente todo o povo brasileiro se os olhares do Governo Federal também tivesse se voltado para lá ao longo dos anos.
A nossa região é uma região abandonada, é uma parte da Amazônia brasileira que vive do flagelo, que vive do desespero do trabalho escravo, que é campeã de mortes no campo. Estão aí os dois últimos exemplos nesta semana recente.
Tem os piores índices educacionais e os piores índices de desenvolvimento humano do País. Envergonha-nos ser o Estado com o maior número de rotas de tráfico de seres humanos do País, e esse sentimento, lamentavelmente, tem tomado conta dos corações e das mentes, Sr. Presidente, de uma parcela da população.
Eu não tenho, como disse agora o jornalista, “a senhora é corajosa”… Eu disse: Não, os outros são covardes. Os outros é que não tem coragem de explicitar sua posição. Nós, do PSOL, defendemos o direito plebiscitário. Defendemos e vamos defender agora, quando formos discutir e votar aqui a nossa reforma política, que se ampliem os mecanismos de participação do povo. Agora, como instrumento de informação; como instrumento que possibilite aos que são a favor e aos que são contra, aos que não entendem desse debate saber o que vai acontecer no dia seguinte se assim o povo do Pará decidir dividir o Estado.
Eu sou a favor do plebiscito e sou contra a divisão do Estado. E não tenho medo de dizer porque tenho argumentos, tenho estudado, tenho buscado me informar. Eu não quero deixar de ser paraense porque nasci na região do Tapajós. Eu não quero que nenhum cidadão do meu Estado se sinta menor porque historicamente foi violentado com a falta de políticas públicas.
Eu não quero continuar vendo, na minha região, uma criança que é estuprada, um menino de cinco anos, passar um ano para ter o direito de reconstituir o ânus como eu vi naquela região. Ou crianças morando na delegacia, junto com os policiais e com os presos, como vi em Alenquer.
Eu quero aqui, Sr. Presidente, de cabeça erguida, dizer, se alguns se acovardam e estão atrás da sua posição, com medo de perder o eleitorado, eu tenho orgulho de dizer que eu tive uma votação expressiva naquela região. Eu vim para cá e quero continuar orgulhando o meu povo, olhando nos olhos e falando a verdade.
Eu não vim aqui para mentir, para ser subserviente a ninguém, eu vim aqui para defender o que eu acredito, para defender melhores condições de vida para o povo do meu Estado, um Estado rico que, enquanto tiver políticos como Jader Barbalho que há vinte e cinco anos saqueia os cofres públicos do Estado, não vai ter condições de vida: nem dividindo, nem separando e nem juntando o Estado.
Pelo povo do Pará, por um Pará forte, com as nossas florestas em pé, apelo para que o debate aqui aconteça e que o plebiscito seja capaz de instrumentalizar o Estado inteiro do que é de fato esta posição”.
Marinor Brito (PSOL/ PA)
31 de maio de 2011