por Fernando Carneiro (*)
O que Palocci e José Dirceu têm em comum? Se você respondeu que ambos foram Ministros da Casa Civil, que ambos são do PT, que ambos estiveram envolvidos em escândalos financeiros ou que ambos foram forçados a renunciar aos seus ministérios para escapar da execração pública, você acertou apenas parcialmente. A outra coisa que têm em comum é o fato de que ambos são “consultores” (leia-se traficantes de influência) milionários, cujos clientes são escolhidos a dedo dentre as empreiteiras contratadas pelo governo petista.
A bola da vez é Palocci, homem forte de Lula no governo Dilma e responsável direto pela articulação “política” com o setor empresarial. Aumentou vinte vezes seu patrimônio em apenas quatro anos. Não por ironia, mas por pirraça da Dilma, uma de suas últimas aparições públicas foi no lançamento do programa assistencialista “Brasil sem Miséria” do governo federal. Se ele ensinasse ao povo brasileiro essa “mágica” talvez os 40 milhões de brasileiros que passam fome poderiam sair, de fato, da miséria em que vivem. Saiu do governo sem dar as explicações necessárias.
Mas não houve originalidade no procedimento de Palocci. Ele apenas seguiu os passos de um de seus mentores, o ex-super ministro José Dirceu, que como Palocci, já disse que “não fala” sobre seus “negócios”. Entre os “clientes” de Dirceu estão o empresário Carlos Slim, dono da Claro e da Embratel e o Sr. Boris Berezovski, magnata russo apelidado de “cardeal cinzento” e proibido pela justiça russa de retornar ao país por causa de suas inúmeras falcatruas. Mas provavelmente seu maior “cliente” é a empreiteira Delta que em apenas 9 anos multiplicou seu capital em 1.091%, transformando-se rapidamente de empresa média em sexta maior empreiteira do país, graças aos seus contratos com o governo federal e com alguns governos estaduais, inclusive o governo de Ana Júlia. A Delta, originariamente uma empresa de engenharia foi a responsável pelo fornecimento das viaturas de polícia ao governo petista no Pará. Além disso, ganhou a licitação para as reformas do Maracanã, orçadas em mais de 1 bilhão de reais e, mesmo sem ter nenhuma experiência no setor de óleo ou gás, integra o consórcio que está construindo o complexo petroquímico de Itaboraí no Rio de Janeiro. É, hoje, a empresa que mais recebe dinheiro do governo federal. Muito disso graças à “consultoria” de Dirceu.
Como se vê a Casa Civil parece ser uma mina de ouro para os ministros que a ocupam. Ao nomear a nova ministra da pasta Dilma resolveu retirar diversas atribuições da Casa Civil, transferindo-as para o Ministério de Relações Institucionais, que também tem nova ministra, a ex-senadora Ideli Salvati. Alterações importantes em áreas nevrálgicas para o governo petista, principalmente porque interferem diretamente nas relações do poder com o setor empresarial, que deus vultosas contribuições à então candidata Dilma Roussef e hoje está cobrando a fatura.
O tráfico de influências está mais que caracterizado. Palocci e José Dirceu desenvolveram profundo apego ao dinheiro oriundo de suas “consultorias”. Tanto que não têm o menor constrangimento de irem à televisão afirmar que suas fortunas repentinas foram obtidas sem nenhuma ilegalidade ou procedimento antiético. E fazem isso com tanta convicção que possivelmente enganariam até o protagonista do seriado “lie to me”, especialista em identificar mentirosos. Mas o povo, que sofre para ganhar honestamente o salário no fim do mês, sabe a verdade.
A relação entre governo e empresariado não é nova na política brasileira, mas não deixa de ser irônico (e trágico) que um partido que se auto intitula “dos Trabalhadores” tenha tanta afeição e cumplicidade com os patrões.
Fernando Carneiro é historiador e dirigente do PSOL do Pará
Uma resposta para ““LIE TO ME, PALOCCI E DIRCEU OU A SÍNDROME DA CASA CIVIL””
Não é por acaso que o governo federal (diga-se, petismo e o lulismo) não têm oposição, esta que, ao longo de mais de 500 anos anos, segundo os petistas, quando fora do poder praticavam o que se apresenta no presente artigo. Ou seja, aumentaram a gangue de ladrões profissionais, por isso o silêncio da “oposição”. É por isso que dizem que o PT é parece macarrão, isto é: só é duro quando fora da panela.