Memória – Sebastião Hoyos, militante comunista paraense

Baú de imagens – Anos 90: Hoyos livre!, uma campanha solidária
Meados dos anos 90 do século passado. Sebastião Hoyos, militante comunista paraense, estava injustamente preso na cela 111 presídio Champ-Dollon, nos arredores de Genebra, acusado de ter participado do “assalto do século” no Banques du Fribourg et Lausanne (BFL), o mais importante do país, ocorrido alguns ano antes, que teria rendido aos criminosos a quantia de 23 milhões de dólares.
Pelo mundo afora um ativo movimento solidário lutava pela liberdade imediata do ativista. No Pará, o deputado estadual Edmilson Rodrigues, à época em seu segundo mandato, ocupava a linha de frente na denúncia contra a truculência das autoridades suíças, que tudo faziam para manter o militante encarcerado por um crime que não cometera. Um requerimento dirigido ao parlamento daquele país, de iniciativa de Edmilson, foi aprovado pela unanimidade dos deputados.
O adesivo acima é um exemplo das múltiplas atividades desenvolvidas pelo Comitê Paraense pela liberdade de Sebastião Hoyos.
Após quatro anos de prisão, ele foi finalmente libertado, após a Corte Suprema ter anulado seu primeiro julgamento. A indenização paga pelo governo suíço jamais pagou a humilhação e a violência sofrida por este que foi um lutador social que não conhecia fronteiras.
Depois de romper o cerco dos militares golpistas em 1964, fugindo para Caiena, o santareno Sebastião Hoyos passou alguns anos em Paramaribo, Guiana Holandesa, até ser denunciado pelo consulado brasileiro e expulso. De volta à Guiana Francesa, retomou a militância em colaboração com o movimento nacionalista que enfrentava a metrópole colonial de Paris. Em 1974 foi preso e sequestrado para a França, numa operação secreta da polícia francesa. Diante das denúncias formuladas por comissões de direitos humanos europeias, acabou sendo solto na fronteira com a Suíça. Com ajuda de militantes do Partido Comunista Francês (PCF), conseguiu atravessar os Alpes e ser reconhecido como asilado naquele país.
Durante muitos anos, Hoyos integrou a rede de apoio a exilados latino-americanos, ajudando-os a ingressar, muitas vezes clandestinamente, no território suíço. Dezenas de militantes devem a vida à ação solidária deste verdadeiro cidadão do mundo.

Memória – Edmilson apresenta moção de pesar pelo falecimento do santareno Sebastião Hoyos

    Veja a íntegra da moção que o deputado Edmilson Rodrigues (PSOL) apresentou da tribuna da Assembleia Legislativa para registrar pesar pelo falecimento do santareno Sebastião Hoyos, emblemático lutador pela causa da justiça e da liberdade:

    O Pará perdeu na última segunda-feira, 20 de junho, um de seus filhos mais ilustres. Morreu em Genebra, Suíça, o santareno Sebastião Ribeiro Hoyos, aos 77 anos, vítima de ataque cardíaco. A história deste lutador se confunde com as jornadas de resistência que o povo brasileiro travou nos últimos 50 anos em favor de um mundo livre de todas as formas de opressão e exploração. Desde muito jovem, ainda em sua cidade natal, Santarém, ele aderiu aos ideais socialistas, tendo ingressado nos quadros do Partido Comunista Brasileiro.

    Nesta condição, Hoyos participou ativamente das lutas sociais que precederam o golpe militar de 1964 e, a partir de 1º de abril daquele ano, foi obrigado a buscar o exílio diante da brutal repressão que se abateu contra todos que ousaram enfrentar os ditames do novo regime.

    Protagonizou uma fuga espetacular que o levou até Caiena, na Guiana Francesa, e a partir daí permaneceu desenvolvendo atividades profissionais e políticas em vários países até chegar, mais uma vez fugindo da perseguição policial, à Europa, onde fixou residência.

    Sebastião viveu 18 anos na Suíça, trabalhando em bons empregos, até que o assalto do banco mudasse a sua vida, em 1990. Acusado e preso injustamente, Hoyos cumpriu quatro anos de prisão por um crime que não cometeu. Sua prisão ilegal pelas autoridades suíças mobilizou um amplo movimento de solidariedade em todo o mundo. O erro judiciário cometido contra este paraense revelou toda a carga de preconceito contra os imigrantes e colocou por terra a imagem de democracia e respeito aos direitos humanos que países europeus costumam propagandear. Após dois julgamentos, Sebastião Hoyos foi finalmente inocentado de todas as acusações, podendo retomar sua vida profissional, muito embora com a saúde fragilizada em decorrência de um câncer surgido durante o período em que cumpriu pena na cela 111 da prisão suíça de Champ-Dollon, nos arredores de Genebra.

    Registro que nos anos 90, quando exerci mandato nesta Casa, pude juntar minha voz ao amplo movimento de solidariedade a Sebastião Hoyos. Moções, requerimentos, atos públicos e uma intensa campanha na imprensa marcaram aqueles anos de grande mobilização cívica. Inclusive, merece especial referência a aprovação unânime de requerimento de minha autoria através do qual esta Assembleia Legislativa apelava ao parlamento suíço pela imediata libertação do paraense injusta e ilegalmente encarcerado.

    Finalmente, em 9 de novembro de 1993, o Tribunal Federal da Suíça anulou a sentença de sete anos de prisão. Submetido a novo julgamento em 1996, Hoyos foi declarado inocente, tendo merecido indenização por parte do governo suíço, que reconheceu o grave erro judiciário que as autoridades daquele país cometeram contra este lutador social exemplar.

    Nos últimos anos Sebastião Hoyos continuou envolvido com o trabalho de organização e mobilização popular, tendo ingressado no partido de esquerda chamado Action Citoyenne, e nesta condição jamais deixou de trabalhar pela conquista da sociedade de homens livres e iguais.

    Neste sentido, REQUEIRO, nos termos regimentais, que esta Assembleia Legislativa formule votos de pesar pelo falecimento do paraense Sebastião Ribeiro Hoyos, um dos mais emblemáticos lutadores pela causa da justiça e da liberdade.

    Que, do teor deste requerimento, seja dado imediata ciência à família de Sebastião Ribeiro Hoyos, à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Secção Pará e à Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).

    Blog do Edmilson Rodrigues publicou

    Foto: Diário do Pará

Deixe uma resposta