Carandiru, PCC e acumulação primitiva de violência

Sérgio Domingues [Pílulas Diárias]

“Livro-caixa de facção registra pagamentos a policiais de SP”, diz matéria de Afonso Benites e Rogério Pagnan para a Folha, publicada em 01/10. A reportagem descreve métodos administrativos e movimentação de 6 milhões de reais mensais pela organização criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital.

Há 20 anos acontecia o massacre do Carandiru. A resposta dos criminosos à matança foi a criação do PCC. É o que diz o membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guaracy Mingardi. Em entrevista a Elaine Patricia Cruz, publicada pela Agência Brasil, ele é categórico: “O PCC não existiria como tal, não teria o poder que tem se não tivesse havido o Carandiru”.
Mas o comportamento assassino da polícia vem desde os tempos da escravidão. A situação se agravou muito nos anos 1970, quando a ditadura militar entregou o comando do policiamento a generais. O episódio do Carandiru marcou nova etapa. Iniciou uma fase na acumulação primitiva de violência que viria a dar origem à resposta organizada do crime.
O conceito de acumulação primitiva foi criado por Marx para descrever a origem do capitalismo. Um processo violento de destruição de antigas relações sociais de produção. Camponeses perderam suas terras, colônias foram formadas à custa do sangue de povos não europeus, milhões de africanos foram escravizados.
A violência está na certidão de nascimento do capitalismo. Por isso, o sistema produz barbárie descontroladamente. Principalmente, nas grandes cidades, onde o aparelho repressivo estatal torna-se cúmplice dos criminosos que combate. Nem sempre involuntariamente.
A violência também vai estar no atestado de óbito do capitalismo. O maior risco é arrastar todos nós para sua cova.

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