Cerca de 500 pessoas participaram ontem do protesto “Fora, Cunha!”, na avenida Presidente Vargas, em Belém. O objetivo foi engrossar o coro nacional pela saída do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara Federal. O manifesto foi conduzido pelo movimento feminista, representado pela Marcha de Mulheres e setoriais de mulheres de vários partidos. Apesar da participação de outros movimentos sociais, como centrais sindicais, a acusação de ter recebido R$ 23 milhões de subsidiária da Petrobras, perdeu lugar de destaque para as críticas ao Projeto de Lei nº 5.069/2013, de iniciativa do peemedebista, que tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas para quem induz a gestante à prática de aborto e, nesse contexto, dificulta a venda da pílula do dia seguinte.
“Ai, ai, ai, empurra que ele cai”, cantavam as mulheres, carregando cartazes e faixas com dizeres de “Fora, Cunha!”, ao som de batuques. Os manifestantes saíram da Escadinha do Cais do Porto, às 10 horas, até a praça da República. Algumas mulheres tiraram a blusa e ficaram só de sutiã em sinal de protesto. Os discursos afirmavam que Cunha representa o “conservadorismo”, o “machismo” e o “retrocesso aos avanços democráticos” e ao reconhecimento das chamadas minorias. “É um absurdo que, numa conjuntura de violência crescente contra a mulher, que é estuprada e sofre violência doméstica e familiar, tenha projetos que vão ao encontro disso”, criticou a feminista Lívia Duarte, ao comentar que, mesmo em casos de estupro, uma das situações em que a legislação autoriza o aborto, o projeto de Cunha também dificulta o acesso à pílula do dia seguinte. Para ela, a proposta criminaliza a mulher vítima de violência sexual.
“É uma grande demonstração de força e indignação dos movimentos sociais que querem dar um basta à crise política e à incitação ao preconceito, homofobia, racismo e ódio incentivados por Cunha. Ele perdeu as condições morais, políticas e éticas de continuar ocupando o cargo que ocupa e precisa ser imediatamente afastado para não atrapalhar as investigações da Lava Jato”, disse a vereadora de Belém e ex-senadora, Marinor Brito (PSOL). “Não há, entre os 200 milhões de brasileiros, quem possa achar normal termos à frente da Câmara alguém que comprovadamente está envolvido com a apropriação de recursos públicos e se mantém no poder para dar sequência à corrupção e outras formas de violência, tais como os projetos de lei que agridem a dignidade, como tentar impedir o acesso de mulheres violentadas por estupro à pílula do dia seguinte”, destacou o deputado federal Edmilson Rodrigues. Os partidos PSOL e Rede denunciaram Cunha, por quebra de decoro, à Comissão de Ética da Câmara. Ele é acusado de mentir ao negar ter recebido recurso da Petrobras. Autoridades suíças já confirmaram que ele recebeu R$ 23 milhões de subsidiária da empresa, depositados em contas ligadas a ele, naquele país.
Fonte: O Liberal