“Então, não sou uma mulher?”

por Sérgio Domingues (*)

Em seu livro “Uma história do povo dos Estados Unidos”, Howard Zinn diz que a primeira convenção sobre direitos da mulher aconteceu em 1840, em Seneca Falls, New York.

Depois dela, muitas outras foram organizadas em várias partes dos Estados Unidos. Em uma delas, em 1851, havia uma mulher idosa negra, que havia nascido escrava em Nova York. Seu nome era Sojourner Truth. Alta, magra, trajando um vestido cinza e um turbante branco, ouvia alguns representantes do sexo masculino que estavam dominando a discussão. Ela levantou-se e juntou a indignação de sua raça à indignação de seu sexo:

Aquele homem ali diz que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens e passar por valetas. Ninguém nunca me ajudou em carruagens, nem me carregou sobre poças de lama, nem me cedeu o melhor lugar. Então, não sou uma mulher?

Olhem os meus braços! Eu arei e plantei, e enchi celeiros inteiros, e nenhum homem fez isso melhor que eu! Então, não sou uma mulher?

Trabalhei tanto quanto os homens, e comi tanto quanto eles, quando pude, e do mesmo jeito agüentei chicotadas. Então, não sou uma mulher?

Pari treze filhos e vi a maioria deles ser vendida como escravos, e quando eu chorei minha dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu! Então, não sou uma mulher?

Assim eram as mulheres que começaram lutar nas décadas de 1830 e 1840 e 1850. Resistiam às tentativas de mantê-las em seu “lugar de mulher.” Elas participavam de todos os tipos de movimentos. Dos presos, dos loucos, dos escravos negros, e também da luta de todas as mulheres.

Sérgio Domingues é do Pílulas Diárias -Comentários curtos sobre assuntos diversos procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.

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