Mestre Damasceno, guardião da cultura popular – Foto: reprodução/TEASER
A valiosa contribuição do Mestre Damasceno como guardião da cultura popular é retratada no documentário “Mestre Damasceno – a Trajetória de um Afromarajoara”, dirigido por Guto Nunes, da Gutunes Produções. O filme contou com a direção artística e produção do próprio mestre, assim como depoimentos dele e de pessoas ligadas à sua trajetória, incluindo arquivos inéditos, como o depoimento da mãe do mestre, falecida em 2016. O lançamento acontece quatro meses após a morte de Damasceno, no próximo sábado, 3 de janeiro, às 20h, na Orla da Praia Grande, na cidade de Salvaterra, no Marajó, onde ele nasceu e exerceu o saber artístico que conquistou visibilidade nacional.
Damasceno Gregório dos Santos, o Mestre Damasceno, faleceu em 26 de agosto de 2025, aos 71 anos. Mestre de carimbó e de toadas, cantor, repentista, fazedor de rimas, poeta e artesão, ele fundou o Búfalo-Bumbá de Salvaterra e o conjunto de carimbó Nativos Marajoara, e com mais de 400 composições de toada de boi, carimbó, lundu marajoara, xote, vaquejada, chula, samba, valsa e brega, deixou cinco álbuns musicais autorais lançados e participação em outros dois.
O filme encerra uma antiga parceria do cineasta com o mestre em vida. “Foram 20 anos documentando, fotografando, filmando, colocando em circulação, fazendo projetos e produzindo para o Mestre Damasceno”, declara Guto Nunes. Entre esses projetos, está o documentário anterior “Mestre Damasceno – o Resplendor da Resistência Marajoara”, de 2012.
“Neste novo filme, revisitamos arquivos, gravamos novos depoimentos, ilustramos as coisas que ele viveu e atualizamos a recente trajetória nacional e de prêmios que ele recebeu, os lugares que acessou e as pessoas que conheceu. Foi um trabalho de pesquisa minucioso”.
Lançamento
O local de lançamento do filme não poderia ser outro. Será na cidade de Salvaterra, onde o Mestre Damasceno nasceu, em 22 de julho de 1954, na Comunidade Quilombola do Salvá, e onde viveu até os 13 anos. Aos 19 anos, ele ficou cego após um acidente como operário da construção civil. Foi em Salvaterra que ele aprendeu, ainda na infância, as manifestações populares do boi-bumbá com o pai, Theodomiro Pereira dos Santos, e o avô, Antônio Paulo Pereira; e também onde exerceu e difundiu essas tradições ao longo de 50 anos.
A programação do lançamento iniciará às 19h, com uma Mostra Audiovisual de Festas Populares – Edição Mestre Damasceno. Às 20h haverá a apresentação do Búfalo-Bumbá Segredo das Meninas. Às 21h será exibido o documentário “Mestre Damasceno – A Trajetória de um Afromarajoara”. E, às 22h, o conjunto Nativos Marajoara fará o show de encerramento.
Após o lançamento, o filme ficará disponível no canal do Youtube do Mestre Damasceno, além de iniciar um circuito de festivais nacionais e internacionais.
Do abandono ao reconhecimento
Guto Nunes conheceu o Mestre Damasceno ainda na infância, quando assistia as festas populares durante as férias escolares, em visita à casa de praia dos avós, em Salvaterra. “Quando soltavam fogos, o meu pai me colocava nos ombros e me levava para ver o Búfalo-Bumbá”, recorda. “Aquele ator cultural ficou no meu imaginário. Eu o reconheci em 2003, na volta a Salvaterra, durante a graduação em Artes Visuais”. Na época, Damasceno trabalhava como pescador e catador de caranguejo para sustentar nove filhos e enfrentava a frustração pela falta de reconhecimento como mestre da cultura popular.
A sorte mudou com o primeiro documentário. Damasceno recebeu duas vezes o prêmio da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura (MINC), nos anos de 2009 e 2017; recebeu o Prêmio Mestre da Cultura Popular do Estado do Pará – SEIVA, pela Fundação Cultura do Pará (FCP), em 2015; foi reconhecido como mestre de carimbó pelo Instituto do Patrimônio, Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2017; em 2023, a sua obra foi reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do estado do Pará; e, em maio de 2025, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta honraria do MINC.
“O Mestre Damasceno, que não tinha o devido reconhecimento, participou do quadro ‘Avisa Lá que Eu Vou’, do Fantástico (TV Globo) e foi homenageado duas vezes na Marquês de Sapucaí. Quando ele voltou, a cidade o abraçou como pessoa importante”, lembra o diretor. Em 2023, Damasceno foi homenageado pela Paraíso do Tuiutí, e em 2025, foi destaque e autor do samba-enredo “A Mina é Cocoriô”, da Grande Rio. Já em Belém, em um encontro com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Damasceno cobrou que os mestres da cultura popular recebessem salários, assim como ele próprio enfrentou dificuldades para sobreviver com a família no passado.
O documentário foi contemplado no Edital nº 23 – Audiovisual Fomento Inciso I – Lei Paulo Gustavo, Secult/Pará, de 2023. A realização é da Gutunes Produções, Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult), Governo do Pará, Ministério da Cultura e Governo Federal. Com apoio do Ponto de Cultura Mestre Damasceno, Balneário Café Rural Marajó, Quiosque Muiraquitã, Henvil Transportes, Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Desporto (Sectur) e Prefeitura de Salvaterra.
Ficha técnica:
Mestre Damasceno – Direção artística e produção
Guto Nunes – Imagens, edição e produção
Ana Paula Gaia – Produção executiva
Marcelo Rodrigues – Direção de fotografia e imagens
Lucas Vinicius – Imagens de drone
Rafael Arantes – ImaginaRio / Imagens Grande Rio
Léo Chermont – Mixagem de som
Paulo Cordeiro – Fotografia still
Felipe Negidio – Colorização e finalização
Fábia Nascimento – Intérprete de libras
Norberto Ferreira – Designer gráfico
Serviço:
Lançamento do documentário “Mestre Damasceno- a Trajetória de um Afromarajoara”Dia: sábado, 03 de janeiro de 2026
Local: Quiosques Café Rural e Muiraquitã, na Orla da Praia Grande – Salvaterra/PA
Hora: a partir das 19h, com mostra audiovisual, apresentação do Búfalo-Bumbá, exibição do documentário e apresentação do Nativos Marajoara.
Entrada franca








