TOQUE DESTRUIDOR DE JADER BARBALHO, MITO OU REALIDADE ?

por Antonio Carlos Martins Barros*

Há muito que pretendemos contar este caso por nós presenciado e lembra o sentido de um dos mitos da história grega, por isso o comparativo feito. Contudo, a fala a ser narrada é de um fato real e está ligada à política paraense que envolve um gesto estranho do ex deputado Jader Barbalho comunicado por uma expressiva liderança do PT e aconteceu por volta de 1998 no município de Ananindeua/ PA.

O mito é uma espécie de folclore, uma lenda com fundo moral e tem a natureza simbólica, bom para ser narrado. A Grécia antiga contou seus mitos para fortalecer a ética na educação do seu povo. Também serviu para impor limites de âmbito moral ao comportamento dos seus cidadãos.

Da mitologia grega, o conto da Medusa chama atenção pelos seus poderes medonhos, pois viva ou morta, a megera petrificou e destruiu pessoas que olharam para sua cabeça horrenda, encoberta por ferozes serpentes que serviam para intimidar o inimigo e facilitar a destruição de todos os aventureiros que se aproximaram. A exceção foi o seu algoz, um herói grego mais esperto que a fera, por ele levada à morte.

Medusa morreu ao provar do seu próprio veneno, foi atraída a olhar-se no espelho do escudo do seu desafeto para em seguida destruir-se. Teve a cabeça decepada pela espada do herói, maldade que serviu para a história ética dos contos gregos narrarem os bons costumes e de coragem dos homens sem grande poder e riqueza.

Regionalmente, o mito poder significar um folclore do dito popular como estes que costumeiramente, ouvimos nas conversas no período eleitoral : “na política paraense até boa voa”, a expressão foi usada à exaustão por uma personalidade de vida pública, o deputado Gerson Peres (PP), para tentar explicar os gestos escabrosos que aconteceram no cenário político do Pará.

Quanto ao fato real, este como já dissemos, aconteceu no ano de!998, quando uma das lideranças estaduais do PT foi recebida na sede do diretório municipal em Ananindeua, o hoje deputado estadual Carlos Bordalo, convidado para discutir sobre aliança partidária.

O convidado petista discutiu sobre o processo de aliança eleitoral do PT para o pleito da época, onde o PMDB era indicado para a coligação. Ao ser provocado no calor do debate sobre a possível aliança, o convidado respondeu :

– Com o PMDB do Jader não podemos fazer aliança ! argumento de Bordalo para sustentar a sua discordância à aliança, à época, pairou no caráter conservador que seria a coligação. Mas, o outro argumento foi marcante para este caso. Continuou dizendo o convidado, convictamente:

– Observem bem, em quem o Jader Barbalho tocou nas suas alianças com companheiros da esquerda, estes tiveram sua morte política!

Acreditamos que o convidado lançou naquele momento outro dito popular “Quem com o Jader se mete será ferido !”.
Um membro da plenária desatento aos fatos da vida política, indagou :

– Quem foram esses tocados por Jader que foram destruídos?

O convidado retomou a fala e lembrou com certa facilidade dois nomes. Respondeu o convidado:

– A ex deputada federal Socorro Gomes (PC do B), e o ex senador Ademir Andrade (PSB).

Certamente, o convidado citou algumas personalidades notáveis da época.
Os fatos da política em nível estadual continuaram no seu movimento corriqueiro, a partir do período destacado. O PT não realizou a aliança com o PMDB, pois, seguir em frente com os partidos do campo democrático e popular ( PSB, PC do B,.. ) conforme defendia Bordalo. Mas, a insinuada aliança eleitoral com o partido de Jader Barbalho, aconteceu no ano de 2006 nas eleições estaduais cujo resultado foi a eleição da governadora Ana Júlia Carepa (PT), e dentre os parlamentares eleitos, estava o convidado.

Neste caso, Jader Barbalho não só tocou a confiança eleitoral de Ana Julia como também colaborou na composição do seu governo, ou seja, o toque colaborador de Jader foi para além da fase eleitoral, compartilhou do governo petista de Ana Julia. Esta foi ajudada para vencer eleitoralmente, o arqui inimigo de Barbalho, o ex governador Almir Gabriel (PSDB), derrotado com a ajuda do seu mais bravo desafeto do PMDB.

A continuada ajuda política de Barbalho ao PT resultou em outra vitória em Ananindeua em 2008, o PMDB aliou-se ao partido dos trabalhadores para permanecer administrando a prefeitura deste importante município onde o PT de Ana Julia colaborou com a vice prefeitura na figura da ex deputada Sandra Batista (PT).

Em que consiste o sentido do mito anunciado por Bordalo para explicar o toque marcante de Jader nos seus aliados? É difícil explicar sobre o cenário de um mito, dado seu componente imaginário,pois diante das possibilidades de justificação simbólica em política, melhor é contar o que seguiu.

O Ademir Andrade foi levado a vereador de Belém em 2004, não conseguiu se eleger a outro cargo de maior relevância, embora tenha tentado a façanha; Socorro Gomes há tempo que não retoma sua vida parlamentar; Sandra Batista, levada à vice de Helder Barbalho também amargou derrota eleitoral ao tentar escapar da condição de vice do PMDB de Jader. A governadora Ana Júlia, não se reelegeu, apesar da força federal que recebeu.
E Peres que não constituiu aliança com Jader, mas compartilhou com o este a gestão estadual, perdeu mandato consagrado por décadas. E dizem as más línguas que o deputado do PP foi visto abraçado com o Jader durante as atividades do governo estadual compartilhado.

E o convidado? atento, parece ter sido poupado, apesar da conjura política de denúncia às companhias de Jader.

E o que ocorreu com o próprio Jader?

Utilizando o comparativo do mito à realidade política, talvez Jader tenha contemplado a si demasiadamente, pois fixou-se em sua imagem de homem esperto e poderoso, olhou-se, achando-se “o cara”, para depois amargar uma histórica derrota eleitoral no rumo do senado, impedido pelos efeitos da lei da “ficha limpa” que vingou finalmente, para Barbalho. Isto em favor dos bons costumes da política, posto que Jader por décadas engajou-se em um intenso ciclo de maldades que fez lembrar o seu antigo desafeto, o finado Antonio Carlos Magalhães, este em vida resistiu às forças em disputa no mesmo campo conservador mas, não pode ver o desfecho desta história.

Bem, quanto ao ex governador Almir Gabriel, ex inimigo que depois abraçou a amizade de Jader em 2010… Bom, preferimos esperar uma próxima reunião com o Bordalo para comentar o fato.

Talvez, não precise esperar tanto: no geral, o que se passou na política paraense são possíveis elementos da sua contradição, são episódios complexos, mas não são mito. Estes casos parecem frutos da crise ética porque passa a política brasileira desde a década de 1990, em que uma parte da esquerda combativa preferiu herdar os maus costumes da politicalha, envolvida nas promessas dos projetos econômicos de cunho privado de alcance mundial. E o bom das contradições observadas é de que há caminhos para se percorrer em defesa da boa política e esta persistência sim, tem sido uma realidade.

*É professor da SEDUC e Mestre em educação em políticas públicas educacionais, do diretório municipal do PSOL /Ananindeua

Uma resposta para “”

  1. Centralizar toda podridão da política profissional em Jader Barbalho é escamotear o lado ético da sociedade. Aliás, é justamente isto que promove a derrocada de políticos (pessoas) como Jader, embora haja certa demora em se consumar o fato – demora proveniente do discurso e prática hipócrita de considerável parte da sociedade, que, atuando dissimuladamente em algum partido político, buscando satisfazer seu umbigo, afunda ainda mais o povo. Taí o PT (lulismo) que refundou, reafirmou, consolidou práticas dominadoras como o paternalismo, machismo, assistencialismo etc., mantendo vivo, mais do que nunca, a direita (será que existe esquerda?), motivo pelo qual não há oposição ao governo federal – coisa que o petismo0 do Pará praticou com perfeição. Logo, o retorno de Jatene…

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