Carnaval fantasma

por Rui Santos (*)

Dialogando com Neno Freitas

Belém/Pa-Mergulhando no ufanismo e ao mesmo tempo no saudosismo do nobre sambista, quero aqui também manifestar-me dizendo que tempo bom aquele quando ainda morador do bairro do samba e do amor, saía da Passagem do Carmo rumo a Av. Pedro Miranda e via, em meio aquela multidão em época de carnaval, aquele negro de quase 2 metros de altura que morava numa vila na mesma avenida próximo a Trav. Antonio Baena, passar rumo a batalha de confete lá no centro da pedreira. Era David Miguel com toda a sua simplicidade, mas com o garbo de quem tem a consciência de sua importância naquilo que faz. Bons tempos aqueles!!!

Eis que pisquei os meus olhos e voltei pra realidade, que tristeza! Antes de qualquer coisa, é necessário entender que estamos diante de uma verdadeira quadrilha que se apossou de Belém e de sua cultura onde a regra principal é o cumprimento de acordos escusos prevalecendo sempre a lei do mais forte e no caso o poder está nas mãos de nunca deveria estar. No entanto fazendo uma melhor avaliação tratam-se também de uma questão de credibilidade moral e de outros princípios formadores de caráter, personalidade, etc…

Coisa muita escassa nesse cenário tragicarnavalesco onde desfilam todos aqueles que outrora tramaram o golpe e por experiência própria estão esticando o couro pra tentar entoar desafinados acordes de samba carnavalesco numa passarela recheada de desencontros, desilusão e incompetência. É a preocupação da esperteza quando se depara com o “besta” aliado ao poder. O que menos importa são o povo e a cultura.

Dirigentes de escolas tradicionais ainda não entendem que carnaval não exige só dedicação, como é o caso de escolas menores como o Xodó da Nega e outras, mas aliança com quem realmente tem compromisso com a cultura e o samba paraense, o relato do autor da matéria realça justamente isso, quem tanto fez pelo carnaval de Belém recebeu um duro golpe daqueles que hoje comprometem todo o brilhantismo que só o carnaval pode proporcionar e com o seu resgate. Por isso estão apavorados com um fantasma materializado chamado evasão de público e aí entra em cena o causador de pânico dos atuais dirigentes do nosso carnaval que são os carnavais pelos vários municípios do nosso estado que tem como atrativos a simplicidade e a alegria dos seus brincantes, mostrando que pra se fazer carnaval o dinheiro é importante, mas não é o essencial.

Precisamos resgatar urgentemente no intimo da população de Belém o gosto pelos carnavais de outrora e fazer com que a nossa aldeia cabana retorne aos áureos tempos de David Miguel e outros sambistas que perpetuaram as nossas escolas e a raiz do samba em nossa terra.

Rui Santos é membro do Círculo Palmarino/Pa

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