por Rogério Almeida (*)
Daqui a pouco a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organização ligada à Igreja Católica, que acompanha as tensões do campo desde a década de 1970, emitirá uma nota sobre as execuções de camponeses no Pará.
Com o assassinato de ontem de Eremilton Pereira dos Santos, no município de Nova Ipixuna, sudeste do estado, são três os casos no Pará e quatro na Amazônia, com a morte de Rondônia, Adelino Ramos, que foi sepultado hoje.
Tudo ocorre na semana de aprovação de forma atabalhoada da reforma do Código Florestal, processo marcado pela grande pressão dos ruralistas, que desde a década de 1980 vence tudo que pleiteia no Congresso Nacional.
A reforma do Código segue e mesma linha dos projetos de desenvolvimento indicados para a Amazônia, marcados pela irracionalidade e à indiferença ao conhecimento. É o muque e o grito que prevalecem.
Uma ironia é notar o PC do B, que fomentou a Guerrilha do Araguaia na década de 1970, no Pará, ser o protagonista de um projeto que tende a favorecer um setor que ao longo dos séculos na história vem se beneficiando das benesses do Estado.
Há uma tese sobre o assassinato sistemático de trabalhadores rurais no país, a impunidade. Isso se ratifica com o retorno dos pistoleiros ao Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Praialta Piranheira para “terminar” o trabalho e fazer a queima do arquivo das testemunhas na mesma semana da execução do casal José Cláudio e D. Maria.
Os pistoleiros desconsideraram até o momento em que o Estado costuma ter uma ação reativa nessas situações, quando envia ao local das tragédias os seus agentes e representantes.
Na imprensa o tema é naturalizado, e as pessoas menos informadas tendem a fomentar comentários desastrosos. Vale a frase da canção: o Brasil não conhece. E a ética que tem imperado desde a presença do colonizador tem sido a força bruta.
Até quando?
Colaboração do jornalista Rogério Almeida, do Blog FURO, para o EcoDebate, 30/05/2011
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Nova Ipixuna – Nota da CPT de Marabá
TRABALHADOR É ENCONTRADO MORTO NO MESMO ASSENTAMENTO DE JOSÉ CLÁUDIO E MARIA DO ESPÍRITO SANTO EM NOVA IPIXUNA
Foi encontrado ontem, por volta das 11 horas, o corpo do trabalhador HERENILTON PEREIRA DOS SANTOS, que estava desaparecido desde quinta-feira no interior do projeto de Assentamento Praia Alta Piranheira, localizado no município de Nova Ipixuna. O corpo foi encontrado por um grupo de assentados a 50 metros de uma das estradas vicinais, distante 7 km do local onde José Cláudio e Maria foram assassinados.
Na terça-feira, dia do assassinato de José Cláudio e Maria, Herenilton e um cunhado seu, encontravam-se trabalhando em sua roça às margens de uma estrada vicinal a uns 5 km do local onde o casal de extrativistas foi assassinado por volta das 8 horas da manhã. Já por volta de 8:40h os dois presenciaram a passagem, a poucos metros deles, de dois homens em uma moto, modelo Bros de cor vermelha, vestidos de jaqueta e portando capacetes. Um deles, carregava uma bolsa comprida no colo. As descrições da moto, e dos dois motoqueiros, coincidem com informações prestadas à polícia por testemunhas que presenciaram a entrada, no assentamento, de dois pistoleiros horas antes do crime naquela manha de terça-feira.
Ainda segundo o relato do trabalhador que estava ao lado de Herenilton, uns 100 metros à frente, os supostos pistoleiros pararam a moto e um deles abordou um trabalhador que se encontrava no local e pediu informações de como chegar ao porto do Barroso. O porto é uma das saídas do assentamento em direção ao município de Itupiranga, trafegando pelo lago da hidrelétrica de Tucuruí. Informados os dois seguiram viajem.
Na quinta feira, Herenilton saiu de casa para ir ao mesmo porto comprar peixe como sempre fazia e não mais voltou. O corpo dele foi encontrado ontem dentro do mato, antes de chegar ao porto. A polícia, acompanhada de peritos do IML, esteve no local e fez a remoção do corpo para Marabá. O agricultor tinha 25 anos, era pai de 4 filhos e vivia no assentamento desde criança. Era muito conhecido e, de acordo familiares e vizinhos, não tinha envolvimento com atos ilícitos ou desentendimentos com qualquer pessoa.
Até o momento não podemos afirmar que o caso tenha relação com a morte de José Cláudio e Maria, mas também não podemos descartar essa hipótese. A polícia precisa esclarecer as causas do crime. O assassinato é prova de que a polícia, depois de 5 dias das mortes dos extrativistas, sequer tinha investigado as principais rotas de fugas do assentamento que os pistoleiros possam ter usado para fugirem após cometerem os crimes. Como explicar que um assassinato, com características de pistolagem, ocorra dois dias depois e nas proximidades do local onde os extrativistas foram mortos com todo o aparato das polícias civil e federal, “vasculhando a região” conforme anunciam?
Marabá, 29 de maio de 2011.
Comissão Pastoral da Terra – CPT da diocese de Marabá