“Na minha quadrilha só tem gente que brilha”. O conhecido refrão que embala as festas juninas paraenses embalou, ontem, o escracho contra os desvios de recursos públicos na Assembléia Legislativa do Pará (Alepa). Os deputados não estavam lá para ver porque as sessões ordinárias só ocorrem às terças e quartas-feiras. Mas uma quadrilha junina diferente incorporou políticos como Jader Barbalho e Domingos Juvenil, ambos do PMDB, dançou em frente à sede do Legislativo e acabou sofrendo agressões ao tentar entrar na Alepa.
O protesto foi organizado pela Juventude em Luta, grupo que tem membros do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), e pela Emancipa, entidade formada por universitários que atuam em cursinhos pré-vestibular populares.
Um dos organizadores, Anderson Castro explicou que o objetivo da manifestação era demonstrar a indignação com a corrupção na Alepa, foco de investigação da polícia, do Ministério Público e da Receita Federal, por causa de fraudes na folha de pagamento e na contratação de serviços. E, também, cobrar que os deputados tomem atitudes de combate às irregularidades.
Os manifestantes chamaram a atenção para a resistência dos parlamentares em assinar o pedido de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) feito pelo deputado Edmilson Rodrigues (PSol). Até agora, só dez deputados subscreveram a proposta. “Assinem a CPI!” foi uma das frases repetidas, mas a manifestação chamou a atenção mesmo pelo esculacho às pessoas citadas até agora como parte do escândalo na Alepa e de outras denúncias de roubo de dinheiro público. Elas compuseram o casamento na roça da corrupção, encenado na rua.
O ex-deputado estadual Robgol fez o papel de noivo da ex-servidora Mônica Pinto. Como num casamento junino, a confusão se armou com a chegada de outros personagens: um imitando o ex-deputado Domingos Juvenil (PMDB) e outro Milene Rodrigues, acusada de fornecer o nome da empregada doméstica para ser utilizada como funcionária laranja.
Jader Barbalho (PMDB) também foi utilizado como personagem. Segundo Anderson, por causa das denúncias de corrupção que pesam sobre o peemedebista e que levaram a Justiça a impedi-lo de se eleger, embora o adiamento da vigência da Lei Ficha Limpa tenha permitido que ele reivindique o mandato.
Presos – Ontem, os participantes do ato público que experimentaram a reação da Polícia Militar que faz a segurança dentro da Alepa. Segundo testemunhos, depois que o protesto terminou, os manifestantes tentaram entrar no legislativo. Dois conseguiram, sem problemas, e os demais foram impedidos, o que fez com que alguns forçassem a entrada e tentassem pular o portão, fechado pela PM.
Um dos organizadores, Anderson Castro disse que eles pretendiam fazer um protesto pacífico dentro da Alepa. O capitão Aleixo, supervisor de dia da Casa Militar, alegou questão de segurança para ter impedido o ingresso no órgão público. “A PM está aqui para proteger não só as pessoas, mas o patrimônio”, disse. Os estudantes foram contidos inclusive com o uso de spray de pimenta. Os manifestantes prometeram intensificar os protestos. O próximo será no dia 27, com roteiro ainda não divulgado.
Curiosos – O protesto dos estudantes atraiu curiosos e teve manifestações de apoio. A presidente da Associação Cultural e Agrícola Deus Proverá, Conceição dos Santos, por exemplo, lamentou que a corrupção retire dos cofres públicos o dinheiro que serviria à população. “Apoio o protesto de coração. É vergonhoso que a gente trabalhe duro e vote pra esses caras pra assistir a corrupção”, disse ela que passava em frente à Alepa quando viu o protesto e parou para acompanhar.
Conceição comentou que o roubo de recursos públicos tem contribuído para que as famílias fiquem reféns da violência e assistam a má qualidade do ensino público e dos serviços de saúde. No ramal Curuçambaba, em Bujaru, onde mora, a corrupção também tem retirado dos pescadores o direito ao seguro defeso. O marceneiro Manoel Fonseca também apoiou o protesto por entender que a população tem sofrido com os desvios. Enquanto recursos vão para os corruptos, observou, se vive numa campanha para só responsabilizar os jovens pela violência que eles protagonizam por causa das drogas.
Fonte:ORM