Amy, diversão e morte

por Sérgio Domingues (*)
Pílulas Diárias

O que separa o ser humano de outros animais é sua enorme capacidade transformadora. Para o bem e para o mal. A essa capacidade Marx deu o nome de trabalho. Não em seu sentido mais estreito e torturante. Mas, como atividade criadora.

Do pote de barro ao computador. Da colheita à poesia. A atividade humana faz e destrói coisas belas ou não. Arar a terra é necessário à sobrevivência mais material. Cantar, não é. Ainda assim, os lavradores sempre cantaram. Até os escravizados, como fizeram os negros americanos, criadores do blues.

A arte é uma atividade que expande os horizontes de nossa espécie. Por fora e por dentro da gente. Nesse sentido, ela é gratuita. Não tem serventia prática imediata. Quando começa a ter, é menos arte do que deveria ser.

A grande maioria de nós trabalha para ter condições de fazer o que gosta. Artistas bem sucedidos podem trabalhar no que gostam de fazer. Seu ofício parece ser mais uma diversão.

Os problemas surgem quando a diversão transforma-se em atividade repetitiva e entediante. Em criação permanentemente pressionada pelo mercado. O “show-business” a lhes cobrar sucesso constante. A diversão como fruto da criação desaparece.

Diversão sem criação é o que podem oferecer drogas e bebida. Provavelmente, artistas não criem melhor sob seu efeito. Elas são uma espécie de muleta. Quando passam a gangrenar as pernas, a queda é inevitável.

Ninguém nunca vai saber por que exatamente morreu Amy Winehouse. Mas, é muito provável que tenha sido de tristeza.

Deixe uma resposta