As vereadoras de Belém, Enfermeira Nazaré Lima e Lívia Duarte, ambas do PSOL, foram vítimas de ofensas racistas durante sessão na Câmara Municipal de Belém, nesta terça-feira (10). Ao comentar sobre o caso de um homem negro, que foi despido em um supermercado de Limeira (SP), para provar que não havia furtado nada, e relatar situações que vivenciou na própria casa legislativa, a vereadora Nazaré, foi chamada de “covarde”. A polêmica foi levantada pelo também vereador Juá Belém (Republicanos), que criticou a vereadora de não denunciar as pessoas que a vitimaram anteriormente.
“O racismo estrutural significa que a sociedade foi estruturada historicamente, sob a égide do racismo, de que os negros e negras são inferiores aos brancos. Eu mesma, nesta casa, tive dificuldades de ser reconhecida como vereadora, uma negrinha, pequenina, magrinha. Quem é você? Um branco alto, uma branca alta passa, que nem pedem identificação. Agora não. Já se acostumaram”, afirmou a vereadora Nazaré.
O que se seguiu a isso foi uma sequência de ataques às vereadoras e à luta antiracista. A vereadora Lívia, também negra, subiu à tribuna para defender a colega, e classificou o discurso do vereador Juá Belém como “violento e racista”. Ela afirmou que não existe covardia no ato de não denunciar um caso de racismo, mas foi interrompida durante sua fala e ainda teve de escutar que tudo aquilo era “choradeira”. Mas não se calou:
“Hoje tive minha fala interrompida por um vereador branco ao me solidarizar com as ofensas racistas direcionadas a vereadora Enfermeira Nazaré. Tive que ouvir que aquilo tudo era “choradeira”. Choradeira não! Aqui tem uma mulher negra e você terá que me respeitar, querendo ou não!”, respondeu a vereadora Lívia.
Pelas suas redes sociais, a vereadora Nazaré voltou a se pronunciar:
“Hoje, lamentavelmente, fui chamada por um vereador de covarde. Homem este branco, hétero, privilegiado. Tudo ocorreu por eu ter exposto haver sofrido racismo estrutural dentro da Câmara Municipal de Belém. O racismo não ocorre de forma isolada. Acontece quando, no início do meu primeiro mandato, faziam-me um verdadeiro interrogatório para poder acessar à Câmara, enquanto outros parlamentares sequer eram barrados na portaria. Quando minha assessora foi impedida de retornar para buscar seu capacete no gabinete, ou quando impediram a Vereadora Bia Caminha e os assessores da Vereadora Lívia de entrarem na Câmara. Infelizmente, o racismo é tão naturalizado em nosso país, que tocar nessa ferida incomoda. Já sofri todo tipo de violência velada, seja machista ou racista, denunciadas aqui neste perfil e na tribuna.
Assumi, hoje, a 1ª Secretaria da Câmara após muita luta em meu mandato e na minha carreira como enfermeira. Sempre tive orgulho de minha cor, e sofri muito preconceito por isso. Sou uma mulher preta, de origem pobre, e sempre batalhei muito pra conquistar meu lugar. Hoje ocupo o segundo espaço mais importante da casa do povo, mas isso não diminui os preconceitos que sofro. Por vezes, somente os reverbera.
Se estou aqui, é porque muitos e muitas fizeram degrau pra mim e pra outras mulheres pretas, como Livia e Bia, que hoje saíram em minha defesa. Afirmo que seguirei falando, lutando, denunciando, porque vivemos em um país racista, misógino, homofóbico! A batalha segue diariamente e eu não vou me calar!!!”, concluiu a vereadora.