Ifood contratou empresas anônimas para neutralizar greve de entregadores de aplicativos

Ju Abe

A Agência Pública divulgou nesta segunda-feira (4), uma reportagem fruto de um trabalho investigativo que expõe contratos entre a empresa de aplicativo iFood e agências de publicidade que teriam sido contratadas com o objetivo de criar narrativas contra o movimento de entregadores que culminou com a grande paralização por melhores condições de trabalho, em abril de 2021.

Segundo a reportagem, as agências de publicidade foram contratadas pra realizar uma anti-propaganda direcionada ao movimento dos entregadores, utilizando o chamado “marketing 4.0”- um tipo de propaganda disfarçada, disseminada quase sempre através de redes sociais: “Você posta memes, piadas e vídeos que promovem uma marca ou ideia, mas sem mostrar quem está por trás. Sem assinar”, disse um dos entrevistados pela Agência Pública.

Segundo a reportagem, o objetivo da publicidade não assinada era disseminar ideias e opiniões em um formato que imitasse a forma dos entregadores de se comunicarem, para que as postagens fossem vistas como se partissem de verdadeiros entregadores.

A greve realizada pelos entregadores em 1º de julho de 2020, que ficou conhecida como o primeiro grande “Breque dos Apps” e paralisou as atividades dos entregadores de aplicativos em 13 estados do país, levou o assunto “Breque” ao topo do Twitter por cinco horas. Paralelamente, agências contratadas pelo ifood trabalhavam para contragolpear o movimento, com o intuito de bloquear o efeito das manifestações que reivindicavam melhores condições de trabalho.

A Pública mostrou que, além dos comerciais exibidos oficialmente pelo ifood em horário nobre na TV, o trabalho nas redes sociais era realizado através de páginas em redes sociais e contas com perfis falsos, que publicavam dizeres com o intuito de esvaziar as narrativas do movimento dos entregadores, sem assinar ou deixar transparecer que trabalhavam para o ifood.

Uma das páginas criadas pela Benjamim Comunicação, uma das agências de publicidade que teria sido contratada pelo setor de políticas públicas do ifood foi a “Não Breca Meu Trampo” , que continha a contra-narrativa das manifestações: “A gente quer melhorar de vida e ganhar mais. SEM patrão e salário mínimo. No corre bem feito a gente tira mais e não tem chefe pra encher o saco. A gente quer liberdade pra trampar pra quem a gente quiser”, diz a descrição da página.

Na página, uma série de vídeos foram publicados com entregadores que teriam sido contratados pela agência para alimentar a contranarrativa da greve, sem deixar transparecer que havia uma agência de publicidade por trás: “Vários perdeu emprego, a única solução que nós teve foi os aplicativos, se não nós estaria até passando fome. Pra nós o jeito que está, tá bom”, diz um dos vídeos analisados pela Pública.

De acordo a reportagem, a responsável pela “Não Breca Meu Trampo”, postou diversos conteúdos do tipo pelo menos entre 2020 e 2021. Além da página, a agência teria coordenado a criação de outras duas páginas e ao menos oito perfis falsos.

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