O homem mais rico do mundo disse que irá enviar satélites Starlink para monitorar a Amazônia como se o problema do desmatamento fosse falta de tecnologia, e não de governo
Jair Bolsonaro e Elon Musk durante o Conecta Amazônia – Twitter Jair Bolsonaro
O bilionário Elon Musk esteve em rápida visita ao Brasil nesta sexta-feira (20), e encontrou-se com o presidente Bolsonaro. Usando a visita como mais uma tentativa de limpar sua imagem para frear a queda livre de suas ações, Musk quis se autopromover como defensor da natureza, anunciando que iria enviar satélites Starlink para monitorar a Amazônia.
Super excited to be in Brazil for launch of Starlink for 19,000 unconnected schools in rural areas & environmental monitoring of Amazon! 🇧🇷 🌳 🛰 ♥️
— Elon Musk (@elonmusk) May 20, 2022
Segundo informações publicadas pelo site G1, o anúncio foi recebido com muitas ressalvas por especialistas que acompanham o enfrentamento do desmatamento no Brasil. Isso porque o INPE, órgão estatal de pesquisas espaciais que trabalha com monitoramento da Amazônia, é uma referência em rastreamento de florestas tropicais no mundo, apesar de ter sido atacado e publicamente descredibilizado pelo governo Bolsonaro.
Os especialistas reiteram que o que atualmente tem provocado o desmatamento da Amazônia não é a falta de tecnologias, mas sim de fiscalização. Elon Musk, pelo visto, acredita que o Brasil é um país cientificamente atrasado, mas não é isso que mostram os dados. As informações com as análises dos especialistas foram publicas pelo site G1.
O Brasil já tem dados suficientes para direcionar sua fiscalização contra o desmatamento. Atualmente, este é monitorado por ao menos três sistemas com dinâmicas que se completam:
- Sistema de alertas de desmatamento oficial do governo, o Deter-B, do Inpe, de monitoramento diário, e o sistema Prodes, de periodicidade anual
- Sistema SAD, do Imazon, que faz monitoramento de um período de 30 dias
- Sistema do MapBiomas, que faz monitoramento anual de cobertura e uso do solo
“(Os equipamentos de Musk) são satélites de comunicação. (…) Não são satélites óticos, eles não conseguem enxergar coisas na superfície, no território, o que é usado para fazer monitoramento do desmatamento”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas e especialista em monitoramento ambiental.
“Não é por falta de achar desmatamento e de monitorar que a gente não tem fiscalização e controle do desmatamento. Pelo contrário, o que falta é essa parte da fiscalização e do controle”, afirma.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de mais 70 organizações da sociedade civil, diz que o Inpe é “uma referência de monitoramento de florestas tropicais no mundo” e também tem a “tecnologia mais avançada para fazer isso”.
“Monitoramento a gente tem e é de qualidade. O que a gente não tem é governo. Não adianta a gente ter a informação e não ter quem aja, tome ações em cima da informação”, afirma Astrini.