A Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai) é uma modalidade de ensino que atende pessoas acima de 15 anos, que, por algum motivo, não conseguiram frequentar a escola no tempo regular.
Desde 2021, a Prefeitura de Belém vem garantindo a retomada das turmas na capital e a abertura de novas vagas, totalizando 172 turmas em 35 unidades, com o compromisso de oferecer ensino-aprendizagem de qualidade a mais de 4 mil pessoas.
Para fortalecer este trabalho, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) realizou em março deste ano a Conferência Municipal de Educação de Belém (CONMEB 2022) para reconstruir a educação pública com grupos de trabalhos da educação básica.
Metas 8 e 9
Em três dias de evento foram discutidas as metas do Plano Nacional de Educação, mais especificadamente a meta 8, de elevar a escolaridade média da população de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo. E também a meta 9, de elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para erradicar o analfabetismo e também reduzir a taxa de analfabetismo funcional.
Uma das propostas da CONMEB 2022 foi à criação do Fórum Municipal da Ejai, que está previsto para ocorrer no dia 17 de novembro, no auditório Ismael Nery, das 16h às 21h, com o tema: Educação popular e alfabetização enquanto ação cultural para a liberdade.
Plenárias
Há um mês, a rede municipal de ensino de Belém vem debatendo com os estudantes os três eixos do Fórum: A Ejai e o mundo de trabalho; Alfabetização na Ejai; e Gestão democrática na Ejai. Em cada plenária foram escolhidos seis representantes, sendo três estudantes e três trabalhadores da educação, para levar ao Fórum as reivindicações da rede.
As discussões foram bem produtivas e pertinentes ao cotidiano dos estudantes e revelaram que, em pleno século 2021, ainda há muitas relações trabalhistas injustas, como conta a estudante Jezilene dos Santos Pantoja, de 17 anos, da 2ª Totalidade, na Escola Municipal Honorato Filgueiras, no Jurunas.
Ela abandonou os estudos muito cedo, após uma gravidez precoce aos 13 anos, e atualmente trabalha como empregada doméstica. Jezilene quer saber mais sobre seus direitos trabalhistas.
“No dia de feriado eu trabalho e a minha patroa não paga hora extra. Quero ter direitos iguais como todo mundo tem”, disse a estudante, que também pretende ter uma formação no espaço da escola, para realizar seu sonho de ter um salão para trabalhar como manicure, pedicure e estética: “Gosto de tudo que envolve beleza e estética”, confiou a moça quando sua turma propôs incluir cursos profissionalizantes no currículo da Ejai.
Oportunidade
Na Escola Municipal Rotary, no bairro Condor, a estudante Iaci Moraes, de 51 anos, conta que sempre teve vontade de terminar os estudos, mas também precisou cuidar dos filhos. A diarista conta que quando soube da chamada da Ejai logo se matriculou e agradece a oportunidade. “Onde eu estudo somos tratados como família. Elas (professoras) dão atenção e se preocupam com os alunos. Eu amei ser acolhida por elas”.
Entre as diversas reivindicações que os alunos fizeram durante a plenária, Iaci contribuiu com um relato. “Tenho uma vizinha que quer voltar a estudar que não sabe ler e escrever. Ela tem dois filhos, mas o marido não permite porque não tem com quem deixar as crianças. Então falei que se tiver uma sala onde as crianças pudessem ficar enquanto a mãe estuda seria muito bom para os alunos que têm filhos”.
Contribuições dos docentes
A professora Mayra Corrêa de Freitas, que trabalha com a alfabetização na Ejai, elogia a criação do Fórum e revela que pretende concorrer ao doutorado para discutir o novo formato da alfabetização municipal.
“O Fórum é uma oportunidade ímpar, porque a gente não sai da universidade preparada para trabalhar com a Ejai. É uma modalidade diferenciada que a gente tem que aprender no dia a dia”, revela Mayra.
Ela também elogiou a produção de cadernos pedagógicos da Ejai para auxiliar as discussões em sala de aula com atividades práticas: a partir das experiências e vivências dos estudantes, como o educador Paulo Freire ensinou.
Entidades governamentais; não governamentais (associações, cooperativas, sindicatos, organizações, institutos, igrejas e etc); setores da iniciativa privada e instituições de ensino superior estão convidadas a participar do evento.
Neste momento, a Prefeitura de Belém enfrenta a atual realidade no cenário nacional, em que muitas turmas da Ejai estão sendo fechadas.
A gestão municipal, por meio da educação, dá poder à população excluída de diretos básicos, como de saber ler e escrever, e vai além: se empenha para que o povo trabalhador consiga ler e escrever o mundo, se percebendo capaz de transformar a própria realidade.
Via Agência Belém