Casa das Artes dá início à programação junina da Fundação Cultural do Pará

A abertura terá a participação de grupos dos distritos de Outeiro e Icoaraci, e dos bairros do Guamá e Telégrafo (Divulgação FCP)

A Fundação Cultural do Pará (FCP) dará início, no próximo sábado (3), ao animado “Arraial de Todos os Santos 2023”, festividade junina que reúne fazedores das culturas populares de todo o Pará. A tradicional “Revoada dos Pássaros Juninos” acontecerá às 17h, e abrirá oficialmente a programação cultural do Arraial 2023, na Casa das Artes, ao lado da Basílica de Nazaré.

O cortejo de abertura da “Revoada dos Pássaros Juninos” vai contar com a participação de grupos composto por pessoas das comunidades de Outeiro, Icoaraci, Guamá e Telégrafo.

Os Pássaros são uma tradição junina das culturas populares que existem há mais de cem anos, sendo o mais antigo grupo de pássaros que se tem registro total de 116 anos em 2023. Trata-se de um teatro com todos os seus elementos técnicos, além da poética da dramaturgia paraense e amazônica. A atração também é conhecida como teatro popular ou teatro de pássaros, por ser realizada pelo povo e retratar a realidade amazônica e suas problemáticas e socioculturalidades como elementos centrais, em forma e conteúdo.

Atualmente, existem aproximadamente 35 grupos de pássaros em atividade no Pará, sendo 21 na capital, que lutam e resistem pela preservação dessa manifestação que constitui um importante patrimônio cultural imaterial do Estado e da Amazônia, embora ainda não possua formalmente o título de patrimônio Imaterial, com pedido de registro em tramitação junto ao IPHAM.

“O governo do Estado, por meio da Fundação Cultural do Pará, realiza desde 2016, o edital Folguedo Junino, que tem como objeto a contratação de grupos das manifestações populares juninas, dentre elas Os Pássaros e Cordões. Trata-se do apoio do governo do Estado para manter essa tradição”, informa o presidente da FCP, Thiago Miranda.

Cultura – O cortejo apresenta elementos amazônicos importantes e personagens que muito bem retratam a cultura Amazônica: a flora e fauna, presente no próprio enredo, que têm no personagem central sempre um pássaro da fauna amazônica, além dos povos indígenas, das culturas afroamazônicas, da nobreza, influência do teatro europeu do século XIX, do caboclo, do ribeirinho e da gente da periferia, retratando problemáticas socioculturais do cotidiano. Há ainda quase sempre a questão ambiental nos enredos, tema muito pertinente no atual contexto paraense e brasileiro.

Existem dois tipos de pássaros, um mais rural, chamado Cordão de Pássaro ou Pássaro Meia Lua, por se apresentar em espaços abertos, mantendo seus integrantes o tempo todo em cena, numa estrutura semicircular. Outro mais urbano, característico da capital, chamado Ópera Cabocla ou de Melodrama Fantasia, um espetáculo que comporta os principais elementos do teatro, trocas de figurino, e o uso do palco de acordo com o enredo.

O guardião-presidente do Ponto de Cultura do Pássaro Rouxinol, Wanderlei Rodrigues, de 56 anos, fala sobre essa cultura que há mais de um século vem trazendo essa arte ao povo de Belém e região. “É uma responsabilidade muito grande assumir este Pássaro Junino que minha querida avó trouxe desde 1930. O Rouxinol foi fundado em 03 de março de 1907, e hoje tem 116 anos e é uma cultura genuína do estado do Pará. Faço com amor e respeito a este povo paraense”, declara Wanderlei.

“O que se pode esperar da apresentação são as mensagens que vêm nos textos levados pelos integrantes do Rouxinol. Nossa peça é a face cruel da justiça, mas essa justiça, na realidade, vem de Deus. Nosso grupo é formado por crianças, adolescentes, idosos e autistas, nós agregamos a comunidade escolar e da periferia pessoas inteligentes que irão fazer um grande espetáculo. A importância que a Fundação dá a cada Pássaro Junino é essencial, pois se não houvesse este apoio, principalmente financeiro e de mídia, para os 24 grupos, poderíamos deixar de existir, então é louvável o que a Fundação vem executando na cultura tradicional do estado do Pará.”, finaliza o Guardião-Presidente.

Lana Machado, Diretora de Artes, fala um pouco sobre o espetáculo. “É um ritual que os grupos de Pássaros Juninos e Cordões de Pássaros realizam para dar início à apresentação na quadra junina de cada ano, na qual eles representam uma cena onde os pássaros estão na floresta e os caçadores estão querendo atingi-los. Em seguida, as fadas intervêm e os pássaros ficam livres para brincar, esse é o significado da Revoada.”, finaliza a diretora.

História- Segundo estudiosos, esse teatro teve início com a chamada Belle-Èpoque ou período da economia da borracha, momento em que Belém recebia as grandes companhias de teatro com as óperas vindas da Europa para se apresentarem no Teatro da Paz. As populações menos abastadas assistiam aos espetáculos do lado de fora do teatro e buscavam reproduzir o que era apresentado no palco, dentro de suas realidades, forjando assim um teatro genuinamente paraense e amazônico, embora com forte influência do teatro europeu da época. Nesses tempos foi construído o Teatro São Cristóvão com o objetivo de abrigar as atividades dos pássaros, e anualmente recebia os grupos para as apresentações durante a chamada quadra junina.

Participarão da revoada 2023 os grupos: Pipira, Colibri, Curió , Tem-Tem do Outeiro, Oncinha, Bacu, TemTem do Guamá, Beija-Flor, Suindara, Sabiá, A Garça, Tucano, Papagaio Real, Rouxinol, Japiim, Uirapuru e Ararajuba, entre outros.

Serviço:

Abertura “Arraial de Todos os Santos 2023″.

Local: Casa das Artes, R. Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236 – Nazaré.
Horário: 17h.
Data: 3 de junho

 

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