por Luiz Mário de Melo e Silva –
A valorização do capitalismo é, no seu oposto, a desvalorização da pessoa humana enquanto ser gregário dotado de capacidade de se desenvolver e se relacionar sem impedir o mesmo com do outro, o diferente. E nesse desenvolvimento está o sonho enquanto projeto pessoal de felicidade, coisa negada pelo capitalismo que impõe o pensamento único em torno do valor monetário.
Para o capitalismo, o consumo exagerado é um padrão social tão-somente para valorizar o dinheiro sem que a grande maioria das pessoas se deem conta disso e o consumo sem exagero seria uma deformidade a relegar à periferia aqueles que não compartilham do excesso; e embora o sonho e a felicidade sejam subjetivos, são dados como mercadorias materializadas a partir da posse ou, sobretudo, compra de algum objeto.
Mas em se tratando de biodiversidade, sendo a Amazônia a referência, o padrão social em questão torna-se nocivo por não ser possível mensurá-lo como padrão monetário para valores como dignidade, ética, compartilhamento, enfim, a harmonia presente na Natureza a nortear os valores de quem com ela se relaciona, como esperança para um mundo justo.
Porém, para subverter os valores descritos no parágrafo anterior a insistência em fazer valer o capitalismo como valor único, sobretudo na Amazônia, tem revelado verdadeiros coveiros de sonhos que não medem esforços para impor o padrão de consumo como status social. Exemplo disso é a rapidez em que a justiça age no propósito de derrubar liminares que impediriam a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHBM), por apresentar, segundo avaliações técnicas, insuficiências de dados, sobretudo sobre impactos ambientais, que possam garantir a idoneidade do projeto.
Todavia, é importante frisar que a justiça sendo filha das leis tem seu valor fundamentado no valor monetário, haja vista que sendo as leis produto de homens com interesses financeiros, na atual conjuntura, ela (a justiça) se manifestará de acordo com o interesse de seu genitor. E aqui “Justiça” adquire materialidade, logo, mercadoria para quem pagar mais.
Óbvio que para a aceitação de tudo isso é necessário a presença do governo, enquanto fomentador de políticas públicas, a investir em infra-estrutura como a UHBM para satisfazer a necessidade de extremo consumo da sociedade, recorrendo, então, à Justiça que se apresenta parcial.
O problema é que “políticas públicas” no contexto da Amazônia soa como imposição, algo já definido pelos detentores do capital, sendo, então, o governo mero executor de leis capitalistas que têm por meta o lucro, sempre exorbitante.
Daí que, mais do que prezar pelo desenvolvimento do país, o atual governo federal mostra-se o continuador da dilapidação da enorme riqueza nacional reafirmando a prática neoliberal que tem como objetivo dar liberdade ao capitalismo, levando-o as últimas conseqüências, e, que, na Amazônia, se iniciou de maneira concreta com a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Hoje, Vale – privatização tão contestada pelos petistas quando na oposição, e que agora é enfiada “na marra” goela abaixo do povo.
Não é demais lembrar que o mundo necessita cada vez mais de energia e a Amazônia, sendo detentora de várias matrizes, desperta a cobiça que se vê. Porém, a opção pela construção da UHBM demonstra o quanto está longe de acabar a dominação imperialista que impõe a ciranda financeira que percorre o mundo em busca de ganhos fáceis, afinal, o império capitalista, ao moldar mentes com seu padrão “democrático” de hiper-consumo, jamais prescindirá do potencial existente nestas bandas. Sobretudo, contando com a colaboração do “cara” – metamorfose ambulante admitida pelo próprio – , que parece não querer sucumbir sozinho em sua transformação, e busca enterrar o sonho dos outros.
Luiz Mário de Melo e Silva
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI)
e-mail: luizmario_silva@yahoo.com.br