Fernando Carneiro (*)
Dados oficiais informam que o estado do Pará possui apenas 16 locais especializados de atendimento de nefrologia, com 216 máquinas de hemodiálise. O mínino necessário seria: 34 locais e 476 máquinas. O Ministério da Saúde deixou de repassar nos últimos 5 anos mais de R$ 18,6 milhões para os serviços de hemodiálise no estado. Duciomar Costa, o pseudo-prefeito de Belém tem, desde dezembro de 2007, seis máquinas de diálise paradas. As mesmas seis que ele agora diz que serão instaladas no PS da 14 de março para o tratamento dos renais agudos, ou seja aqueles que estão em crise. Mas como ficam os 280 pacientes crônicos que estão em lista de espera aguardando vagas para serem atendidos?
Estudos comprovam que cerca de 70% dos casos graves de nefrologia são oriundos de casos não tratados de diabetes e hipertensão arterial. Estas são doenças originadas de fatores hereditários, mas principalmente de hábitos de vida não saudáveis, sendo, portanto, em parte preveníeis e tratáveis. As ações de prevenção, tratamento e controle dessas doenças deveriam ser realizadas 100% nos postos de saúde da atenção primária, o que reduziria drasticamente os atendimentos hospitalares.
Nesta questão, como em outras tantas, assistimos atônitos à morte de seres humanos nas filas dos hospitais de Belém e do estado. Aí, ato contínuo, o prefeito diz que a culpa é do governador, que diz que a culpa é do governo federal. Neste caso fica evidente a co-responsabilidade dos governos municipal, estadual e federal. Enquanto a lógica imposta à saúde for a lógica do capital, enquanto paciente forem tratados como clientes, enquanto não investirmos seriamente em saneamento, em atenção básica e infraestrutura, continuaremos a ver o povo morrer nas filas. Mas só o povo porque as elites estão bem assistidas com seus planos de saúde privados.
Eu realmente fico indignado com certas coisas que já se tornaram corriqueiras. Todos os meses vemos notícias de que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal tiveram lucros extraordinários. Só falta vermos as escolas públicas e os hospitais públicos anunciarem lucros. É a lógica do capital se impondo aos serviços públicos, direta ou indiretamente (através das terceirizações). Preferia ver notícias de que as os bancos, as escolas e os hospitais públicos tivessem dado prejuízo, mas ver o povo ter financiamento, educação e saúde de qualidade. Sei que estas afirmações podem chocar algumas pessoas, mas quem se choca mais com essa afirmação do que com as mortes na fila, realmente precisa rever seus conceitos.
Fernando Carneiro é historiador e dirigente do PSOL/PA.
Uma resposta para “POR QUE SE MORRE NAS FILAS DA HEMODIÁLISE?”
meu marido tambem esta na fila em um hospital do Rio de Janeiro , aqui as coisas também não são muito diferente. Não aquento mais ver o sofrimento dele. Asensassão de impotência que eu tenho é muito grande ,não tenho apoio nem um das autoridades e estou vendo meu marido definhar aos poucos sem poder fazer nada.