A nova classe média é a velha classe trabalhadora

Sérgio Domingues [Pílulas Diárias]

Vira e mexe, a chamada nova classe média aparece em jornais, debates ou conversas informais. É a tal classe C em expansão. Não é para menos. A Fundação Getúlio Vargas diz que ela representa 55% da população brasileira. Ou pouco mais de 100 milhões de habitantes. É muita gente. Mas um pouco de rigor teórico é importante.

Foi o que procurou fazer a filósofa Marilena Chauí em palestra para o 1º Ciclo de Debates do Fórum Direitos e Cidadania, realizado em julho passado no Palácio do Planalto. Com o tema “Classe Média: como desatar o nó?” a professora falou a um público que, talvez, faça pouco ou nenhum uso de suas conclusões.

De acordo com Marilena Chauí, “a distribuição das classes pela sociologia e pelos institutos de pesquisa de mercado se faz com base na renda, na propriedade de bens imóveis e móveis, na escolaridade e na ocupação ou profissão”. Entretanto, diz ela, “há outra maneira de analisar a divisão social das classes. Aquela que se originou com o marxismo”.

Na opinião da filósofa, é costume identificar os segmentos da classe média como sendo aqueles ligados à ciência e à técnica. “Hoje, porém” diz ela:
…com a revolução eletrônica e a informática, as ciências e as técnicas tornaram-se parte essencial das forças produtivas e por isso cientistas, técnicos e intelectuais passaram da classe média à classe trabalhadora. Dessa maneira, renda, propriedades e escolaridade não são critérios para distinguir entre os membros da classe trabalhadora e os da classe média.
Ou seja, diminuição da pobreza e aumento do consumo pode levar ao conformismo e ao individualismo. Mas também significa mais gente em contato com as contradições do capitalismo. É o que mostram, por exemplo, as mobilizações em várias partes do mundo. Com grande participação de universitários, diplomados e profissionais especializados.

“Proletários, uni-vos!” continua valendo.

Uma resposta para “A nova classe média é a velha classe trabalhadora”

  1. É necessário observar que para Karl Marx “proletariado” tende a ser o trabalhador que recebe algum valor financeiro em troca (venda) de sua força de trabalho. Neste caso seriam os operários que surgem com a revolução industrial a referência para tal frase de união. Aqui é preciso perceber que operário é o trabalhador com “carteira assinada”, com ganho regular. Ao contrário, lupemproletariado, naquele contexto, tende a ser os trabalhadores desempregados (sem carteira assinada) que não teriam “força econômica” para lutar contra o capitalismo. Ocorre que o lulismo distribuiu migalhas econômicas e dentro da proposta de dominação capitalistas os patrões (empresários) controlam seus empregados por emitirem contracheques e o governo, as esmolas assistencialistas. No fim, todos se encontram sob a batuta capitalista. Ou seja, Marx deve ter esquecido do “trabalhador desempregado” (lupemproletariado) que serve de bucha de canhão para fazer valer a democracia representativa em favor da elite capitalista. Enfim, o lulismo, com seu assistencialismo tende a ser a salvação momentânea do moribundo capitalismo.

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