Ele já ocupou o Palácio Antônio Lemos entre 1997 e 2005. Nas eleições de 1996, Edmilson Rodrigues foi o grande azarão da disputa à prefeitura. Começou em baixa nas pesquisas e acabou surpreendendo na reta final e venceu a eleição.
Desta vez, a história começou diferente. Edmilson, pré-candidato do Psol à Prefeitura de Belém este ano, já é apontado como tendo o maior percentual de intenções de votos nas pesquisas feitas até agora. Mas o ex-prefeito torce mesmo é para que o final seja igual ao de 1996.
Edmilson é arquiteto e professor, mestre em urbanismo e doutor em geografia. Nesta entrevista -parte da série que o DIÁRIO faz com os pré-candidatos à prefeitura em Belém – Rodrigues listou projetos, respondeu a críticas feitas à sua administração e falou sobre a relação que pretende estabelecer com os governos federal e estadual, caso seja eleito. Confira:
P: Quem serão seus possíveis aliados nesta campanha?
R: A conferência eleitoral do PSOL, realizada em maio, nos autorizou a conversar com alguns partidos, cinco para ser exato: PSTU, PCdoB, PCB, PV, PTdoB e PTN.
P: E como estão essas conversas?
R: Boas. Há grandes possibilidades de se firmar alianças. Alguns partidos podem querer coligar apenas na eleição majoritária, outros podem querer coligar na chapa proporcional e tudo isso vem sendo conversado.
P: Um fator importante na negociação das coligações é o tempo de TV e todos os partidos com que o senhor está conversando têm pouco tempo. Como o senhor pretende superar essa deficiência?
R: A nossa campanha vai usar de forma competente o tempo que teremos. Ao mesmo tempo nossa campanha começa a ganhar ares de movimento cívico. Temos recebido a adesão de pessoas que não são ligadas a partidos: grandes nomes da medicina, engenheiros, arquitetos urbanistas e intelectuais…
P: O senhor acredita que esse movimento pode compensar o pouco tempo de propaganda no rádio e TV?
R: Os partidos são pequenos diante da vontade de mudança que se expressa agora. Nós vimos isso em 1996 e já estamos vendo isso agora. Se você for à praça da República aos domingos vai encontrar ambulantes vendendo botons. E isso ocorria antes mesmo de eu ser lançado candidato. Como tribuneiro da Assembleia Legislativa, tenho acompanhando os movimentos sociais e atuado diariamente, e isso tem feito com que as pessoas me vejam. A rigor, os grandes órgãos de comunicação não têm boa vontade com aqueles que se propõem a mudar o mundo, como eu me proponho.
P: O Psol vai impor alguma restrição para o recebimento de doações de campanha. O partido não causa certo temor aos empresários?
R: Não causa. O Psol é um partido simpático. A Heloísa Helena é aquela mistura de religiosidade, honestidade, aguerrimento.
P: Mas isso se traduzirá em doações de campanha?
R: O Psol é a referência da militância aguerrida que faz campanha sem precisar receber dinheiro e, ao mesmo tempo, é uma militância alegre, festiva. O Psol é a expressão do movimento social, autêntico, combativo, mas se você conversa com o empresariado de Belém, pode ouvir ‘não sou Psol, mas tenho respeito pelo Edmilson’. Agora se você me perguntar se vou aceitar todo tipo de apoio, eu digo que não. De multinacionais envolvidas com a destruição da Amazônia, não aceitaremos. De empresários bandidos, de forma alguma. Qualquer empresário que, dentro da lei, quiser fazer doações, está chamado a contribuir e será recebido de bom grado.
P: O Psol faz oposição ao governo de Dilma Rousseff em nível federal e aos tucanos em nível estadual. Caso o senhor seja eleito, não se corre o risco de ter uma Belém isolada, sem recursos federais e estaduais?
R: Não há essa hipótese. Quando fui prefeito e o governador era Almir Gabriel e o presidente Fernando Henrique [ambos tucanos], ganhei prêmio de melhor programa da saúde da família no Brasil…
P: É possível administrar Belém sem recursos federais ou estaduais?
R: Mas nós vamos ter recursos federais. Eu tive recursos federais na época do Fernando Henrique. Por que não terei da presidente Dilma?
P: Caso seja eleito, o senhor espera apoio do governador Simão Jatene?
R: Simão Jatene? Nós municipalizamos a saúde em um esforço conjunto. O fato de ele ser tucano e eu ser do Psol impõem diferenças político-ideológicas de homens que são diferentes, mas que têm senso de responsabilidade. Espero o mesmo tratamento que tenho dado a ele na tribuna da Assembleia Legislativa, onde defendo o povo do Pará. Não faço oposição leviana. No caso da cobrança da taxa mineral, por exemplo, li o projeto, fiz uma proposta de emenda, sentei com o vice-governador [Henilson Pontes] e fui à tribuna defender a cobrança da taxa, porque o minério deve ser explorado, mas parte da riqueza deve ficar aqui.
P: Parte de seus leitores vêm do PT, que tem candidato próprio [Alfredo Costa]. Essa divisão não enfraquece os dois?
R: Quantos candidatos têm a base do governador? Eu diria que tem quatro. Não tem problema. É até bom que a esquerda tenha alternativas.
P: O senhor espera contar com os votos dos petistas?
R: Eu tenho maior respeito aos partidos, mas não posso dizer para alguém deixar de votar em mim, sejam militantes ou não militantes, filiados ou não filiados. Do PT são muitos e a explicação é porque as pessoas me conheceram por dentro do partido, do governo, e sabem da minha postura democrática, carinhosa e respeitosa.
P: Uma crítica frequente à sua administração é sobre a qualidade das obras…
R: Se você viu nas redes sociais, tem assinatura certa, porque tem um bando de gente que covardemente não assume.
P: O senhor acha que não houve abandono do centro de Belém na sua administração?
R: De jeito algum. Como é que houve? O que foi o Ver-o-Peso? Veja a revitalização da praça Dom Pedro II, praça do Relógio, a inclusão de Belém no programa Monumenta, que garantiu quase R$ 5 milhões para o Mercado Bolonha.
P: Quando dizem que suas obras eram de má qualidade, como o senhor responde?
R: Todas eram de excelente qualidade. Lembra de uma obra minha que não prevaleça. Complexo Ver-o-Peso, canteiros laterais e ciclovias na Almirante Barroso. Não houve um remendo. Vamos lembrar de 1998, outubro, a reinauguração da Augusto Montenegro. Depois de 14 anos sem um tapa buracos, a obra resiste.
P: A Augusto Montenegro está bem acabada…
R: Mas já são 14 anos desde a inauguração. Lembre-se do Pronto Socorro do Guamá, do Ver o Rio e da Praça Waldemar Henrique. Do Ver o Rio, até a Guarda Municipal foi tirada, mas continua lindo.
P: O prefeito Duciomar Costa declarou recentemente que pensou em renunciar ao mandato por causa das péssimas condições das finanças do município. É verdade que Belém não tinha superávit e não podia receber recursos federais e de organismos internacionais no final das sua gestão?
R: Minha avó dizia que desculpa de amarelo é comer barro. O povo tem cada vez mais consciência e todos têm tido cada vez mais informações sobre as contas públicas. Quem tem informação sabe que a prestação de contas do último período de um governo é feita pelo novo gestor. Então foi o atual prefeito que, no dia 27 de janeiro de 2005, assinou a prestação de contas do último quadrimestre do meu governo. Ele assinou, portanto, um balanço que dizia que o sistema previdenciário era superavitário. Nos cofres públicos ficaram muitos milhões para usar em qualquer emergência. É só ver no Diário Oficial, no final de janeiro, que a certidão de honestidade e de equilíbrio financeiro foi dada pelo próprio prefeito. Ele pode dizer o que quiser para manipular o povo. Eu recebi a prefeitura endividada e o orçamento administrado pelo prefeito Hélio Gueiros era de apenas R$ 230 milhões. Eu entreguei uma prefeitura superavitária e um orçamento de quase R$ 1 bilhão.
P: Caso o senhor seja eleito, o que o senhor pretende fazer com as obras do BRT?
R: Esse é um dos programas do Ministério das Cidades para melhorar a mobilidade. O programa liberou R$ 18 bilhões só para isso. Nenhum prefeito que não quisesse implantar BRT teria dinheiro. São Paulo, por exemplo, recebeu zero de recursos porque queria fazer metrô. O Rio de Janeiro recebeu R$ 5 bilhões. Nós vamos ter que conversar com a empresa para baratear custos e repensar o sistema. Não permitir a demissão de 1.700 cobradores e motoristas. Vamos ter que fazer um planejamento complementar ao concluir o BRT para que todos os bairros de Belém sejam servidos com linhas complementares.
P: Que erros o senhor cometeu na gestão anterior que hoje não cometeria?
R: De erros, eu não lembro. Erros graves? Não. Tudo o que fiz foi para melhorar a vida do povo e houve um reconhecimento tanto do povo quanto dos instituições nacionais e internacionais. Tivemos reconhecimento em relação à merenda escolar, da Unicamp. A ONU, por meio do Unicef nos deu o prêmio de prefeito criança.
P: Na época em que o senhor foi prefeito ouvia-se muito que o senhor era muito radical e que era difícil de negociar. Como reponde a essa crítica?
R: Eu estou aberto sempre a mudar de opinião, mas eu tenho cabeça própria. Desde os dois, três anos de idade, quando minha mãe parou de me dar comida na boca. Eu tenho autonomia. Se for para ser prefeito, mas dar para outros governarem, não serei prefeito. As pessoas me respeitam, porque sabem que eu tenho uma visão programática. Ao me indicar, o PSol está querendo um prefeito e não uma marionete. Os partidos que estão negociando conosco sabem que estão afirmando a minha liderança porque se for por boquinha, procurem outros partidos. Os que estão aqui é porque têm visão programática parecida com a nossa.
Fonte: Diário do Pará
24.06.12