Sérgio Domingues [Pílulas Diárias]
O Hino Nacional brasileiro é a cara de uma sociedade injusta. A começar por seu vocabulário. “Lábaro”, “garrida”, “impávido” são algumas das palavras que mais de 99% dos brasileiros não conhecem.
“Gigante pela própria natureza”, o país foi mantido unido a ferro e fogo. Revoltas populares aconteceram no Pará, Maranhão, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Queriam as liberdades prometidas durante o processo de independência. O fim da escravidão era uma delas. Foram massacradas a mando da classe dominante.
A “mãe gentil” de que fala o Hino tem muitos filhos. A grande maioria está condenada à pobreza. Enquanto isso, alguns poucos são mimados com o que há de mais luxuoso. Mãe? Talvez. Desnaturada? Com certeza.
O “florão da América” sempre foi governado por quem explora e oprime os povos vizinhos. Desde a Guerra do Paraguai até os serviços prestados pelos carrascos da ditadura militar às ditaduras uruguaia, argentina e chilena nos anos 70.
Hoje, multinacionais brasileiras, como a Vale, Petrobras e Odebrecht fazem miséria em grande parte dos países sul-americanos. Já não se contentam em acabar com “nossos bosques” que “têm mais vida”. Também avançam sobre as matas e a vida de nossos vizinhos.
Já o “filho que não foge à luta”, é formado por negros e pobres. Na Guerra do Paraguai, por exemplo, a grande maioria dos 40 mil soldados brasileiros mortos era formada por escravos. Ou se alistaram em troca da liberdade, ou foram obrigados a ir para a guerra no lugar dos filhos de seus senhores.
O povo brasileiro ainda vai ter um hino que represente suas lutas. Enquanto isso, cantemos a Internacional. E, talvez, o hino dos clubes de nossos corações.