[Luiz Mário de Melo e Silva]
Para haver o bem-estar é imprescindível observar os tempos passado, presente e futuro. Ou seja, é preciso passar pelas fases de planejamento, execução e usufruto. Sobretudo em se tratando de diversão. Tecnicamente é o recomendável.
Mas, e quando nada disso acontece é possível atingir o bem-estar? Sim. É possível! Todavia, é de imperiosa necessidade haver amizade e espontaneidade, conduzidas pelo improviso.
Exemplo disso foi a ideia de fazer um Carna Rock, afinal, nada mais eclético que curtir rock pesado em pleno carnaval, deixando a coisa fluir efusiva e naturalmente.
Mas, segundo o idealizador, o tal evento fez água porque parece que os outros artistas roqueiros foram para outras plagas onde o cachê era bom, o que não foi suficiente para arrefecer seu ânimo. E aí a coisa passou ao improviso, que, justo por isso, foi fantástico; pois no improviso todos estão desarmados de convenções, levando consigo somente sua autenticidade.
Agora, o ambiente seria qualquer um. Talvez sua casa, onde parece haver, vez por outra, eventos culturais.
E foi o que aconteceu. O local, embora pareça pequeno, é aprazível porque dispõe de duas coisas essenciais para a alegria e, posteriormente, a felicidade: espaço e luz – tornando-o grande por isso.
Espaço vazio e claridade são essenciais para a liberdade. Ainda mais quando ocupado por pessoas inteligentes, sensíveis e arte (música). E, claro, comida e bebida à vontade, afinal, sem esses ingredientes não seria possível atender as mentes e os estômagos. Ora…
Havia comida, bebida para todos os gostos, e gente bonita. Havia casais e gatas desacompanhadas. Havia gente chegando porque a coisa era da melhor qualidade. Eu, particularmente, acabei com o baião-de-dois e com o tatu, que estavam uma delícia! Havia também um “velho” que fazia o maior sucesso, acompanhado de churrasco. Aliás, foi a maior graça quando relembrou-se que o churrasco é a coisa mais primitiva que começou com o pau enfiado direto na carne e jogado ao fogo, coisa que ainda hoje existe – embora, hoje em dia, já não seja mais pau e, sim, ferro. Então, com esses elementos a coisa estava perfeita.
O auge do encontro foi ser ciceroneado por uma senhorita com seu brilho dourado, que iluminava o ambiente com sua espontaneidade, transparência e honestidade em se comportar, transmitindo respeito e, sobretudo, a ideia de liberdade. Muita liberdade!
Não havia quem ficasse parado com seu jeito eletrizante de dançar e suas interpretações irônicas e lascivas das letras de algumas músicas. Agora, imagine a cena regada à cachaça e cerveja?! E até quem parecia não saber dançar, sambou…brincou…se divertiu.
Nessas condições não há alimento mais nutritivo para o animal humano, que se torna manso não porque foi dominado, mas, sim, por se deixar conduzir por sua condição natural de igualdade, por deixar fluir seu pontencial sem a necessidade de medir forças com o outro, ou seja, de ser autêntico para expressar a sensação de liberdade, tendo esta como medida para todas as coisas.
Em tal ambiente o primitivo aflora e germina o mais saudável dos seres, por estar sendo gestado não à toa, mas, sim por algo que ultrapassa todas as convenções dogmáticas que impedem a plena liberdade, a felicidade. Algo este como um útero pagão que só pode ser medido e sentido pela vida em toda sua dinâmica e potencialidade.
E nisso o tempo se esvai, se torna pequeno para suportar tanto prazer, tanta satisfação, fazendo pensar que o que é bom dura pouco, ainda que o poeta ensine que o bom mesmo é “que seja eterno enquanto dure” ou “que tudo vale a pena quando a alma não é pequena” num processo ad aeternum completando o bem-estar em sua fases de antes, durante e depois. Esta última ficando por conta do gosto de quero mais…encontrar com os amigos que estavam juntos no domingo de carnaval, na casa do amigo J. Dourado, para curti-los ouvindo rock.
Luiz Mário de Melo e Silva
E-mail: luizmario_silva@yahoo.com.br
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI).