Apesar do que diz o deputado bolsonarista, haviam inocentes entre os 26 mortos confirmados pela PM do Rio de Janeiro, como o ex-militar da Marinha e funcionário de loja de calçados Douglas Inácio, que deixou um bebê de dois meses.

“Bandido Bom é bandido o quê?”, diz a legenda do post, publicado nesta terça-feira nas redes sociais do deputado federal Éder Mauro (PL/PA). A postagem mostra ainda um vídeo onde o bolsonarista classifica os mortos pela chacina de “bandidos” e parabeniza a PM do Rio.
“E que matem muito mais bandidos nesse país, porque é o que deve ser feito, para que a gente tenha sossego”, continua o deputado.
Mas, ao contrário do que diz o deputado bolsonarista, entre os mortos na chacina da Vila Cruzeiro haviam pessoas inocentes, como o comerciante e ex-militar da Marinha Douglas Inácio, e o mototaxista e vendedor ambulante Ricardo José da Cruz, 27, que havia se mudado de Vigário Geral para a região recentemente, e deixou uma esposa e três filhas pequenas.
Nesta semana, a letalidade da operação, juntamente com o caso Genivaldo dos Santos, chamou a atenção da comunidade internacional, figurando entre as pautas de discussões do Parlamento Europeu e gerando relatórios da ONU, segundo publicação do colunista da UOL, Jamil Chade. A ONU solicitou explicações e investigações independentes em relação aos casos, repetidamente denunciados por diferentes órgãos das Nações Unidas.
“Estamos chocados”, disse a porta-voz da ONU no Brasil, Liz Throssell lembrando que a maior parte das vítimas da operação é negra, “assim como são 80% dos mortos em operações policiais, de acordo com estudos sobre operações da polícia do Rio de Janeiro no passado”.
Ela sugere, ainda, que o governo invista em políticas de treinamento e implementação de câmeras corporais para redução de letalidade nas operações policiais: “crucial que as autoridades respeitem a ordem do Supremo Tribunal Federal para implementar um plano de redução de letalidade em operações policiais, em especial equipando batalhões de operações especiais com câmeras corporais”.
Governo de Cláudio Castro (PL) já acumula 40 chacinas em apenas um ano de gestão
A chacina é a segunda mais letal da história recente do Rio de Janeiro, atrás apenas do massacre do Jacarezinho em 2021, com 28 mortos. Ela faz parte também da lista de 40 chacinas em apenas um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL), segundo levantamento obtido pelo UOL.
Extinção das UPP’s
Neste domingo (29), uma longa reportagem do Fantástico, na Rede Globo, mostrou que as Unidade de Polícia Pacificadoras (UPP’s), implementadas pelo governo de Dilma Roussef nas favelas do Rio de Janeiro, configuraram uma solução viável oferecida pelo poder público, entretanto, foram extintas durante o governo Bolsonaro.
“Em 2010, a Vila Cruzeiro apareceu novamente nos jornais de todo o Brasil e o flagrante transmitido ao vivo rodou o mundo: centenas de traficantes armados fugindo pela mata para chegar ao complexo vizinho, o do Alemão, porque o local estava sendo ocupado pelas forças de segurança para a instalação das unidades de polícia pacificadora, as UPPs. Na época, a sensação era de esperança de que algo estava realmente mudando ali”, disse a reportagem.
“Com a pacificação, a região passou a ser visitada por turistas. No entanto, com o tempo e a falta de investimento no projeto, as UPPs foram perdendo força e, com isso, o tráfico voltou a ganhar espaço”, continuou o narrador.
Medidas de pacificação social
A reportagem mostrou ainda o pesquisador Marcelo Dias, diretor do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, que tem 61 anos e nasceu na comunidade. “As operações policiais são por vezes necessárias, dado o contexto do Rio de Janeiro, mas elas não podem de maneira nenhuma ser a única forma de ação das forças policiais nesses lugares. A gente não vê melhoria nenhuma. Cadê as creches, as piscinas? Cadê o esporte? O lazer dentro dessas comunidades?”, disse ele, cobrando medidas preventivas pomotoras de pacificação nas favelas do Rio de Janeiro.