Evo Morales recua e estrada ‘brasileira’ não cortará reserva indígena na Bolívia

William Maia [operamundi]

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou nesta sexta-feira (21/10) que a rodovia que está sendo construída com financiamento do Brasil não atravessará uma reserva indígena localizada no leste do país. Morales vetou parte do projeto de lei aprovado pelo Congresso boliviano que autoriza a construção da estrada. Em coletiva de imprensa, o presidente assegurou que o Tipnis (Terra Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure) continuará “intocável”.

O recuo de Morales ocorreu depois de uma reunião com 20 líderes indígenas integrantes de uma marcha contra a obra iniciada na Amazônia boliviana, que após 66 dias chegou até a capital, La Paz. A crise sobre a construção da rodovia abalou a popularidade de Morales, especialmente junto às populações de origem indígena, que formam parte de sua base de apoio.

“Dentro de meus poderes (constitucionais) revisei a lei aprovada, porque não pudemos acolher os pedidos de nossos irmãos indígenas, que pleitearam um novo projeto de lei sobre o TIPNIS”, disse Morales, que enviou ao presidente da Assembleia Plurinacional, Alvaro Garcia Linera, uma proposta de alteração que atende aos pedidos dos manifestantes.

Segundo Morales, o nova lei deverá garantir que “a estrada Villa Tunari-San Ignacio de Moxos, como qualquer outra, não atravesse o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure “. Morales também anunciou que a nova legislação incorporará o conceito de “intangibilidade” para proteger o parque ecológico dos assentamentos de grupos sociais diferentes dos de indígenas que lá vivem. “Portanto, o tema Tipnis está resolvido”, disse.

Os nativos do Tipnis acusaram Morales de promover a construção da estrada para que os produtores de coca de seu reduto político de Chapare, vizinho da reserva, ampliassem seus cultivos da folha. O presidente também foi acusado de ceder aos interesses econômicos do governo brasileiro, que vê na estrada que corta a Bolívia um meio de ligação com o Oceano Pacífico. A obra é tocada pela empreiteira OAS e tem financiamento do BNDES.

O dirigente indígena Rafael Quispe, aimara como Morales, mas que apoia os indígenas da região amazônica, destacou a proposta como um “bom sinal”, mas ratificou que restam outras 15 reivindicações que devem ser discutidas pelo presidente com os nativos do Tipnis.

“Enquanto não forem resolvidos os 16 pontos, aqui ficaremos mobilizados”, disse, por sua vez, o presidente do Tipnis, Fernando Vargas, às portas do Palácio Quemado, sede da Presidência, onde está acampado desde a última quarta-feira.

*Com informações do jornal La Razón e da agência Efe

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