Educação libertadora: o caminho para a cidadania plena

Aos 18 anos e estudante de escola pública, Taylor Ramos é o primeiro universitário da família. Foto: arquivo pessoal

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Esse é um dos ensinamentos deixados por Paulo Freire, patrono da educação brasileira, em seu último livro, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. A obra é uma inspiração para quem pensa a educação.

“A educação, no sentido pleno do termo, é uma educação que se constitui instrumento intencional da produção de uma consciência crítica da realidade. Você ensina a ler, mas não é apenas para soletrar o b com a. Você aprende a ler para ter a capacidade de compreender, porque não dá para ser plenamente cidadão sem a capacidade de ler – de ler livros e de ler o mundo”, afirma Edmilson Rodrigues, educador e prefeito de Belém.

No dia mundial da educação, celebrado nesta quarta-feira, 28 de abril, as falas do prefeito de Belém são sinais claros de como a educação pode transformar a vida de pessoas, como Taylor Ramos. Morador do distrito de Icoaraci, ele tem 18 anos, estudou a vida inteira na rede pública de ensino e este ano foi aprovado em duas universidades, a Federal do Pará (UFPA) e a Federal Rural da Amazônia (UFRA).

Taylor é o primeiro universitário da família – “Eu sempre acreditei que a educação pode nos dar um futuro melhor, porque eu conheci várias pessoas que pararam de estudar muito cedo e hoje vivem com as consequências disso. Algumas famílias pensam que o trabalho é mais importante do que o estudo, é por isso que muitos jovens largam a escola cedo, até por falta de incentivo. Eu sempre segui o caminho apontado pelo meus pais e professores, o de estudar”, explica o novo estudante de medicina veterinária da UFRA.

Arte e educação – Rose Tuña, professora artista desde 2014 e integrante do grupo de trabalho de arte da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), diz que a educação aliada à arte abre caminhos para a liberdade de consciência. “A arte, quando entra no sistema da educação, contribui com a sua linguagem, sua maneira de olhar, com a sua maneira de ser, e aí fica mais fácil o entendimento dessa criança, desse jovem, para esses elementos da educação. A arte se torna uma ponte. Então, ela vem nesse sentido da liberdade, do entendimento do que ele é e do que ele pode ser enquanto cidadão”, enfatiza.

Nesse processo de ensino e aprendizagem a via é de mão dupla: todos ensinam e aprendem. “A educação libertadora é necessariamente dialógica, isso quer dizer que todos sabem, mas todos sempre têm a aprender, de modo que ser educador é colocar o seu conhecimento acumulado a serviço de quem precisa aprender, mas é também estar humildemente se dispondo a aprender sempre com aqueles que são educandos”, afirma o prefeito de Belém.

Educação e gestão pública – Para além de construir cidadãos mais críticos e livres, a educação pode ajudar a construir uma cidade melhor. Por isso, a Prefeitura Municipal de Belém tem dialogado com as universidades públicas que atuam na capital paraense, para desenvolver projetos e ações em conjunto. O objetivo desta mobilização é aplicar o saber científico produzido na Universidade do Estado do Pará, na Universidade Federal do Pará e na Universidade Federal Rural da Amazônia, nas atividades da gestão municipal.

Nos três casos, a prefeitura pretende firmar um termo de cooperação guarda-chuva para, então, desenvolver projetos e ações específicas em parceria com as universidades, um trabalho que deve envolver diversas secretarias e coordenadorias do município e abranger diversas áreas.

Para o reitor da UEPA, Rubens Cardoso, a cooperação com a prefeitura é “um mecanismo formal, que vai orientar outros mecanismos institucionais, para podermos – de mãos dadas com a prefeitura – dar a nossa parcela de contribuição naquilo que nos couber, para que os munícipes aqui de Belém possam, cada vez mais, melhorar as suas condições de vida e as suas condições em outros aspectos necessários no cotidiano da nossa cidade.”

“A cooperação estabelecida com a Prefeitura Municipal de Belém tornará possível um avanço no cumprimento da nossa função social, na medida em que novos projetos poderão ser executados, com impactos diretos para a população. Esses projetos também representarão oportunidades adicionais de aprendizado, para os discentes e para toda a comunidade da UFPA”, conta o reitor da Universidade Federal do Pará, Emmanuel Tourinho.

O reitor da Universidade Federal Rural da Amazônia, Marcel Botelho, também destaca o caráter pedagógico da cooperação, já que, com essa ação conjunta, os alunos da UFRA poderão participar de projetos decisivos para o desenvolvimento da cidade, por meio de estágios e pesquisas. “Ainda em Março, recebemos na Universidade a visita de secretários e do prefeito de Belém, e nessa reunião tivemos a oportunidade de apresentar demandas que podem ser atendidas pela UFRA e seu corpo técnico, especialmente nas áreas de saúde animal, meio ambiente, geoprocessamento, agricultura urbana e periurbana, acessibilidade e inclusão, em suma, várias áreas que a UFRA pode contribuir decisivamente para o desenvolvimento da cidade”, explica.

As três universidades entregaram uma proposta de acordo de cooperação técnica à Prefeitura de Belém, que está analisando os documentos. Após esta análise, o acordo será discutido novamente pelas instituições, para que então seja firmado o pacto. Depois que o termo de cooperação for assinado pela gestão municipal e pelas universidades, as ações em conjunto começarão a ser desenvolvidas.

Os esforços para valorizar a educação na gestão municipal são contínuos, sempre com o objetivo de transformar Belém em uma cidade educanda e educada.

Por Juliana Brito – Agência Belém

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