A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi formalmente instalada nesta quarta-feira (17) na Câmara dos Deputados. Um dos principais cargos da comissão, o de relator, ficou nas mãos do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro (PL) e investigado pelo STF por vários crimes ambientais. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), integrante da comissão indicada por partidos de esquerda, chegou a pedir o impedimento da nomeação de Ricardo Salles, mas o pedido foi negado.
Articulada por partidos de oposição ao governo de Lula (PT), a CPI foi instalada a pedido do deputado bolsonarista Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), com justificativas pouco fundamentadas. Segundo o proponente, que será presidente da comissão, a investigação pretende descobrir “o verdadeiro propósito” do MST, os financiadores do movimento e a situação atual de propriedades que foram ocupadas.
A sessão de instalação deu o tom do que promete ser a CPI. A lista de integrantes, titulares e suplentes, conta com cinco deputados que usam patentes militares junto a seus nomes, contando o próprio Zucco, e outros três que se apresentam como “delegado” ou “delegada”, entre estes, o parense Éder Mauro (PL). O grupo tem ainda outros nomes alinhados ao bolsonarismo, como Kim Kataguiri (eleito vice-presidente da comissão).
Éder Mauro ataca Lula e deputada na abertura da CPI
O deputado Delegado Éder Mauro (PL) protagonizou um bate-boca com apoiadores do MST , atacando o presidente Lula.
Como é já é de costume, o delegado bolsonarista partiu para a baixaria e se pôs a atacar o MST e o presidente Lula. O parlamentar chamou o MST de “bandidos” e “desocupados” e, aos gritos, atacou o presidente, chamando-o de “ladrão” e “bandido”.
“O que vai ser tratado aqui é invasão de terra por bandidos financiados por esse governo [Lula]”, diz o parlamentar. Outra deputada retruca, afirmando que Éder é acusado de tortura.
“Você responde pelo crime de tortura e quer falar de movimento social? Coloque-se no seu lugar”, diz a deputada.
“Se tem um bandido aqui é o seu presidente!”, responde Éder Mauro.
No Twitter, o parlamentar de extrema-direita compartilhou trecho do bate-boca, aproveitando para atacar novamente o MST . “Contem comigo para expor os financiadores dos terroristas”, publicou.
Juristas e jornalistas criticam a CPI
A instalação da CPI foi criticada por juristas. A Associação Juízas e Juízes para a Democracia (AJD) divulgou, no início de maio, uma nota de solidariedade ao movimento e suas lideranças por conta da aprovação das investigações.
De acordo com a AJD, a CPI tem “duvidosa constitucionalidade”, pois foi instaurada “sem fato determinado e com a indevida finalidade de ‘investigar’ pessoa jurídica de direito privado”. A iniciativa “é mais um passo no processo protagonizado pela direita neoliberal de perseguição, descrédito e demonização dos movimentos sociais”.
Já a jornalista e comentarista da Globo News Eliane Cantanhêde disse que a CPI é tendenciosa. “Um tenente-coronel na presidência, um delegado na vice-presidência e o Ricardo Salles como relator, tá evidente qual é o objetivo dessa CPI”, ironizou a comentarista.
Essa famigerada CPI do MST vai ser comandada pelo que há de mais fétido e mal intencionado da Câmara.
Se depender deles, será a Comissão dos Picaretas Indecentes pic.twitter.com/oqghwgsyEk— Sérgio A J Barretto (@SergioAJBarrett) May 18, 2023
Com informações de Brasil de Fato e O Liberal