Isabella Santorinne representa o Pará no maior concurso de beleza trans do mundo; confira entrevista

Foto: Raffa Carmo

Ju Abe

O Miss International Queen é um concurso de beleza voltado para mulheres Transgênero de diversas partes do mundo. Realizado na Tailândia desde 2004, o certame é o maior do mundo da categoria, e tem como missão a conscientização e a promoção de igualdade entre homens e mulheres LGBTQIA+, tanto na sociedade como no mercado de trabalho. Todos os lucros monetários do espetáculo de coroação são doados para a Royal Charity AIDS Foundation of Thailand, da qual a vencedora vira embaixadora durante seu reinado.

E é nesta festa de coroação da diversidade que a paraense Isabella Santorinne it pousará glamourosamente, representando o Pará e o Brasil para disputar o título de Miss Internacional Queen 2023, o mais importante da categoria. Isabella está na Tailândia deste sábado (9), onde cumpre uma série de agendas comuns às participantes, até a grande premiação, no dia 24 de junho.

A miss e ativista, que também é coordenadora da ONG “Rede Paraense de Pessoas Trans” e segunda secretária de comunicação da ONG nacional “Rede Trans Brasil”, conversou comigo via mensagens de aplicativo sobre sua participação no concurso internacional, desafios, superações, ativismo e outros assuntos. Sempre muito prestativa e cheia de orgulho por estar representando o Norte, a miss mostra o porquê de ter chegado tão longe; o contato com esta paraense genuína é ao mesmo tempo disruptivo e transformador. Isabella não deixa de lembrar um só momento que sua voz é a voz de muitas, muitos e muites, carregando em seu corpo não somente o glamour, mas também a luta e uma profunda consciência sobre as causas que representa. Confira.

Como está a expectativa para o Miss International Queen?

IS- Eu acredito que vou dar o melhor, representar a beleza de mulheres amazônidas, mulheres nortistas, paraenses. E assim, vou entregar o que me propus a fazer né, não só levar a beleza, mas levar a conscientização. Eu acho muito importante a gente falar sobre a nossa população trans do Brasil, que infelizmente é uma população que, de todo o mundo, é a que mais é assassinada. Então, eu acredito que mesmo sendo um concurso de beleza, a gente pode sim levantar essas pautas, pra alertar a sociedade à toda a violência que a gente passa. É uma visibilidade internacional e porque não usar essa visibilidade internacional não só para a beleza, mas também pra falar sobre políticas públicas, pra falar sobre nossos direitos?

Como surgiu o convite pra você participar do concurso?

IS- Eu saí do estado do Pará enquanto Miss Beleza T do Pará, pra representar o Pará no certame nacional que é o Miss Internacional Queen Brasil. Disputei com todos os estados do Brasil e ganhei o primeiro lugar, e me tornei a Miss Internacional Queen Brasil. Disputei com 26 meninas e alcancei o título máximo. E a partir desse momento que eu ganhei o Miss Brasil, eu comecei a minha preparação pra representar não mais só o Pará mas sim o Brasil como um todo nesse certame internacional que é o Miss International Queen.

Me fale um pouco sobre seu trabalho como miss e ativista LGBTQUIA +.

IS- Eu sou ativista social pelos direitos LGBTQUIA+ a mais de dez anos dentro do estado. Então, essa visibilidade que eu tô tendo agora, nacional e internacional, foi muito importante porque eu acredito que a gente tem como conciliar sim beleza e ativismo né, essa visibilidade da beleza “levando” também pro ativismo, pra ser uma porta voz da beleza. Porque, quando a gente fala de beleza, a gente entende que muitas mulheres travestis e transexuais não se sentem belas porque a sociedade diz que elas não são belas, que elas não podem estar num espaço de visibilidade. E quando eu quebro este estigma de que o lugar da travesti ou da mulher trans é só na esquina, e posso reafirmar que sim, o nosso local pode ser em cima de uma passarela tendo uma visibilidade enquanto corpo belo, mesmo sabendo que as belezas são diversificadas, é importante a gente ressaltar isso. E também falar que nós estamos lá levando vários corpos né, eu tô querendo representar os corpos brasileiros que são diversificados. Mulheres quilombolas, mulheres indígenas, mulheres magras, gordas, enfim, a pluralidade de “mulheridades”, que existe no nosso país. Então eu consigo conciliar tudo, levando a beleza e lavando meu ativismo também, sobre essas pautas super importantes.

Fale um pouco sobre sua vida, sua trajetória. Algum dia você imaginou que chegaria tão longe?

IS- Eu me identifiquei enquanto uma mulher trans aos 12 anos de idade, mas eu não conhecia os termos “travestilidade” e “transsexualidade”, até porque eu era uma criança. Eu só vim entender quem eu era com 15 anos, quando eu tive acesso à internet, quando eu fui pesquisar e fui ver que eu era uma mulher trans. E a minha trajetória foi muito difícil né, porque em toda transição de gênero a gente perde amigos, alguns familiares viram as costas pra gente, na escola a gente é muito discriminada, mas eu consegui passar por cima de tudo isso, com apoio de vários amigos. No começo a minha mãe não entendia muito bem, ela não aceitava. Hoje em dia, meu contato com ela é bem mais próximo, ela já me entende, já me ama do jeito que eu sou. E assim, eu acompanho o Miss International Queen a mais de dez anos, então, eu sempre vi outras meninas representando o Brasil, e eu me imaginava, mas não acreditava que eu tinha o potencial pra estar aqui. E hoje eu estou representando o meu país, né, e as mulheres amzônidas, mulheres guerreiras, mulheres trans e travestis nortistas. Aquele menino que sonhava em estar pisando nos palcos, hoje é uma grande mulher que está pisando e representando o seu país lindamente. E eu tô muito feliz sabe, muito feliz mesmo. Mesmo com todas as dificuldades, eu consegui chegar aqui no Miss International Queen, aqui na Tailândia.

Vote em Isabella Santorinne no perfil oficial do Miss International Queen

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