por Fernando Carneiro (*)
O projeto petista de governar o Pará por mais quatro anos não encontrou guarida no voto popular. No confronto eleitoral deste ano, o candidato do PSDB Simão Jatene saiu na vantagem, sendo eleito com 1.860.571 votos (55,74%) dos paraenses enquanto Ana Julia obteve 1.477.279 (44,26%).
Sinais de dificuldades para a reeleição já haviam sido detectados há algum tempo pelo comando petista. A elevada avaliação negativa de seu governo e o forte índice de rejeição tornaram irreversível o quadro desfavorável.
O PT apostou todas as fichas para tentar a sua reeleição. Seu governo torrou milhões em propaganda no rádio, jornais e televisão, como nunca se viu antes na história do Pará. Apresentou-se na disputa com um orçamento milionário, em torno de R$ 40 milhões, a mais cara do país, proporcionalmente falando. Compuseram sua coligação 14 partidos, com o apoio de 78 prefeitos, incluindo o da capital. Obteve o maior tempo de rádio e TV para expor o seu programa eleitoral, além da presença das maiores lideranças de seu partido, entre elas, a força inconteste do presidente Lula. Não pode, portanto, alegar falta de estrutura ou de tempo para expor suas propostas. Ainda assim, viu o seu condomínio ruir ladeira abaixo.
Ana Júlia começou a perder credibilidade quando teve o seu nome associado a escândalos gravíssimos desde o início de seu governo, alguns, com repercussão em nível nacional.
Seu governo foi marcado por fortes crises internas, sem perfil claro no modo de gestão, sem unidade programática, sem identidade. Um consórcio de partidos fisiológicos, conservadores e antipopulares, muito mal resolvidos. Uma junção de interesses e de personagens conhecidos por maus costumes, revestida de desavenças históricas.
Também foi incapaz de promover políticas públicas em favor da maioria explorada. Sem ações efetivas para atender necessidades fundamentais nas áreas da educação, da saúde, da segurança, entre outras. Um governo pífio em realizações. Não possibilitou a criação de canais efetivos de participação popular, ao contrário, reprimiu e criminalizou os movimentos sociais combativos que resolveram lutar por direitos e questionar o seu governo. Ademais não atendeu nem as demandas originadas pelo seu malfadado PTP (Planejamento territorial participativo), uma imitação barata do que foi o Orçamento Participativo e o Congresso da Cidade, que funcionaram no Governo do Povo à época do governo de Edmilson Rodrigues em Belém.
Seu governo frustrou as expectativas de mudança que possibilitaram sua vitória em 2006, quando derrotou doze anos de hegemonia tucana. Ana Júlia e o PT descobriram, da maneira mais dura possível, que não se pode criar expectativas em vão. O povo foi implacável com as falsas promessas.
Não bastasse o horizonte nebuloso, Ana Júlia e seu partido embarcaram numa aventura ainda mais perigosa. Aliaram-se a figuras nefastas da política paraense, tais como o atual prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB), o condenado pedófilo e ex deputado Seffer (PP), o ex governador Almir Gabriel, privatistas, responsável pelo massacre de Eldorado do Carajás, entre tantos outros da mesma estirpe e falta de moral. Com o mesmo grau de vulnerabilidade que conseguiram erguer o castelo de alianças em torno de sua candidatura, o viram desmanchar. O resultado foi esse aí, um caminho claro ao retrocesso político no estado. Os princípios que fizeram grande o PT foram jogados na lata do lixo, o único que restou foi o “princípio” de se manter no poder a qualquer custo. Triste epitáfio para quem outrora foi legítimo representante dos anseios populares.
Alguns “analistas” afirmam que a esquerda foi derrotada. Não é verdade. Quem foi derrotado foi esse projeto, não a esquerda paraense. O PSOL, que elegeu uma senadora e o deputado estadual mais votado da história do Pará, além de obter mais de 107 mil votos para o governo (tendo votos em todos os 144 municípios) foi amplamente vitorioso. Tornou-se uma referência inconteste para amplos setores populares.
Agora, caberá aos seus estrategistas de campanha, analisarem seus erros e repensarem seus conceitos. Ao povo e às forças políticas comprometidas com a causa socialista caberá continuar o combate à miséria, à exploração, contra a violação e pela ampliação de direitos. O PT, que tão facilmente se acostumou às artimanhas dos corredores palacianos, vai passar por uma nova prova: reaprender a ser oposição depois de ter sido derrotado pelo voto popular.
Fernando Carneiro é historiador, dirigente do PSOL e foi candidato ao governo do Estado do Pará
4 respostas para “Ana Júlia: uma derrota anunciada”
concordo com tudo isso. Foi uma série de trapalhadas que determinou o desgaste deste governo
O modo pragmatista de fazer política do governo Lula onde o pilar central desse modelo consiste na cooptação de lideranças inclusive aquelas que sempre defenderam o modelo neoliberal de governar, além do abandono total do fator ideológico partidário sob a alegação da defesa da governabilidade, levou o PT a mudar os rumos de sua trajetória e a fortalecer lideres políticos de outrora e que agora posam juntamente com o presidente ou fazem parte de seu governo. Aqui no Pará dando seqüência a essa linha de atuação Ana Júlia aliou-se ao que de pior existe na política paraense tendo inclusive como seu vice o vice-prefeito Anivaldo Vale parceiro do indigesto Duciomar Costa e esse virou coordenador de sua campanha culminando com Almir Gabriel o responsável pelo massacre de Eldorado dos Carajás e algoz dos servidores públicos e dos trabalhadores em educação. Seu modelo de governar não atendeu os anseios populares por mudanças estruturais principalmente nas áreas de educação, segurança pública, saúde. Inclui-se também alianças com figuras rechaçada do convívio social por escândalo e condenação por pedofilia e hoje é quem administra o hospital metropolitano de Belém fruto das relações com o governo estadual. Se a nível federal esse pragmatismo foi eficiente e nos levou a continuidade com Dilma, aqui no Pará foi diferente e o povo paraense, infelizmente, optou pelo retorno de uma das maiores representações do pensamento conservador e retrogrado da política brasileira que tem como legenda o PSDB. Por outro lado o povo deu uma demonstração de esperança e dispensou a vc Fernando Carneiro uma votação significativa e de grande importância que fez nascer a mais nova liderança comprometida com as causas do nosso povo e com força para as próximas disputas…dias melhores virão!!!
Forte abraço,
Rui Santos
Caro Fernando,
Correta avaliação sobre a derrota do projeto eleitoral do PT. Chamo de projeto eleitoral por não reconhecer que haja projeto de governo entre tantos partidos fisiológicos. Preciso lembrar que o PT, topou manter-se refém da canalhada do PMDB desde a eleição anterior, imaginando que pudesse passar a perna no chefe da maior quadrilha de políticos que esse estado já conheceu. A derrota eleitoral da canalhada petista serve, e muito, como lição para aqueles militantes que, por necessidade de sobrevivência, toparam submeterem-se ao constrangimento de subir no mesmo palanque que abrigou figuras como Duciomar Costa, Luiz Seffer e Almir Gabriel só para citar parte da bandidagem que “apoiou” Ana Julia.
caro,
Fernando Carneiro,o teu comentário e bastante oportuno para se fazer refletir,qual a verdadeira aliança no processo eleitoral, com o povo sendo este o principal instumento capaz de direcionar as demandas necessária para sua emancipação ou com partidos fisiologistas que estão no poder a décadas massacrando a classe trabalhadora .E quando a segunda aliança a contece o resultado não e outro. governo Ana Julia PT,PMDB,PTB e CIA LTDA ,varios indíces inclusivé de rejeição da governadora,