Marcelo Pellegrini (*)
Meios de comunicação do país ainda não incorporaram negros – A baixa participação da população negra nas programações e propagandas veiculadas nos grandes meios de comunicação de massa no Brasil podem significar menores oportunidades de trabalho e alimentar um preconceito racial velado no país, aponta estudo realizado na Faculdade de Direito (FD) da USP. Para o pesquisador Osmar Teixeira Gaspar, responsável pelo trabalho, “ter visibilidade acarreta algumas possibilidades ao longo da vida e a falta dela também pode criar um ideário popular de que determinadas funções devem ser ocupadas por determinados esteriótipos”.
Segundo o pesquisador todo material publicitário atualmente ainda é feito com um recorte racial, assim como algumas telenovelas. “Você raramente vê algum médico ou cientista negro nas telenovelas, isso faz um garoto negro pensar que, devido à sua cor, jamais poderá participar daquele universo branco e exercer aquelas funções. Esta censura midiática desperdiça e marginaliza talentos”, afirma Gaspar. “Isso não incentiva negros a almejar determinadas profissões.”
Com isso, o estudo de mestrado desenvolvido por Gaspar busca traçar como o conteúdo dos veículos de comunicação de massa e seus personagens fatalmente refletem no mercado de trabalho, por meio da análise das telenovelas das emissoras Globo, SBT e Record, no período de 2005 a 2010, e de revistas impressas. “Nas peças publicitárias ou nos comerciais de televisão, os elementos negros ou estão no fundo da cena ou não tem voz”, relata o pesquisador.
O estudo examinou algumas revistas impressas brasileiras – como Elle, Sou+Eu, Manequim, Claudia, Vogue Brasil, TPM entre outras – e apontou que as mulheres brancas aparecem nessas publicações 94,08% das vezes contra apenas 6,081% das mulheres negras. De acordo com o pesquisador, isso é um dos exemplos de como a ausência ou a discriminação da população negra nos veículos de massa refletem nas oportunidades profissionais. “As agências publicitárias pouco fazem uso de modelos afrodescendentes, o que não é justificável, pois as classes C e D do Brasil, onde se encontram a maioria da população negra, são um grande mercado consumidor”, infere Gaspar.
Representatividade
Após anos de escravidão e influências europeias sob território tupiniquim, a ausência das populações negras nos palcos decisórios, de debate e de poder na sociedade brasileira se tornou algo natural, defende o pesquisador. “Parte dos próprios negros se acostumaram com sua ausência e naturalizaram a ideia”, afirma.
Segundo o pesquisador, um veículo de comunicação de massa participa das decisões e dos processos de construção de uma sociedade. Por isso, um veículo de massa traz poder às pessoas que o possuem ou que fazem parte de sua programação e “atualmente, não há interesse que a população negra alcance esse poder e tenha voz para fomentar seus avanços sociais”.
Por fim, Gaspar ressalta que deve-se apenas defender a Constituição Federal. “Nossa Constituição não hierarquiza e tampouco admite qualquer tipo de censura aos brasileiros em razão de seu fenótipo. Ao contrário, ela lhes assegura o direito de gozarem das mesmas oportunidades, representatividade e visibilidade”, diz.
Contudo, segundo o pesquisador, é necessário que o Estado brasileiro implemente políticas públicas que efetivamente democratizem e assegurarem o acesso e a inserção desta população negra aos meios de comunicação de massa, de forma proporcional à sua representatividade dentro da sociedade brasileira. “Entendo que a televisão comercial deve ser lucrativa, mas por outro lado, não se pode desvalorizar o ser humano. A TV deve e pode investir em uma grade de programação plural que aborde diversos aspectos culturais do Brasil e das etnias que compõem nossa sociedade”, conclui.
Reportagem de Marcelo Pellegrini, da Agência USP de Notícias,
Uma resposta para “Baixa representatividade negra na mídia gera menos oportunidades de trabalho e alimenta o preconceito racial”
Antigamente não existiam produtos de beleza específicos para atender as demandas das mulheres negras e essas utilizavam os mesmos dos brancos, as embalagens eram apresentadas sempre com a imagem de modelo europeu de beleza, ou seja, uma mulher branca, loira de olhos azuis e cabelos longos loiros. Isso incomodava aos negros do movimento de combate ao racismo que apontavam as diferenças existentes entre, principalmente a pele e o cabelo dos negros e rejeitavam aquela prática, pois representava uma das táticas de dominação da minoria branca elitizada. Fruto desse processo justifica o fato de muitos negros alisarem (chapinha) os cabelos tentando adotar tal padrão de beleza. O mercado financeiro diante da polêmica e vendo que a população brasileira é formada em sua ampla maioria por negr@s, investiu na linha de produção de produtos com a bioquímica voltada para essa demanda, principalmente shampoos e cremes para os cabelos e os negr@s passaram a ter suas imagens exibidas nas embalagens desses produtos. Para o capitalismo o que interessa é o consumo atuando em favor do acúmulo de riquezas.
A luta dos movimentos de combate ao racismo deve tomar o víeis de que existe a necessidade de reparar todas as mazelas deixadas pelo processo de escravidão a que foram submetidos os negr@s em nossas terras e as agruras por que passam seus descendentes, mas principalmente a visão com o corte de classe e sob a ótica socialista para se fazer a verdadeira reparação humana que a questão exige. Caso contrário estaremos fadados a continuarmos sendo vistos na mídia como uma novidade em um espaço que por lei e de direito pertence a tod@s, sem exceção.