A redenção do verde e amarelo

Richarlison comemora seu gol pela seleção brasileira na estreia da Copa, contra a Sérvia. Imagem: NELSON ALMEIDA / AFP

Após incrível performance da seleção brasileira de futebol, que, com a ajuda de façanha empreendida pelo atacante e grande destaque do jogo Richarlison, deu vitória ao Brasil em sua estreia na Copa do Catar, o brasileiro finalmente pôde ver a nação unida em prol de uma só causa, depois de tanta divisão intercorrida nos últimos anos pelas bandas de cá.

O clima foi de festa nos quatro cantos do Brasil, diante da atuação de uma seleção digna do título de hexacampeã, o qual, desde então, parece bastante plausível.

Dizem as más línguas que o choro de Neymar não foi somente pela contusão, no entanto. Teria o atacante “bolsominion”, acostumado às pompas que a posição entre os melhores jogadores do mundo lhe deu, se sentido ofuscado pela brilhante atuação de Pombo? E logo por este que, ao contrário do contundido, traz em si a representação de uma nova geração de atletas que não se contentam em apenas levarem os títulos de “melhores”, mas não medem esforços em engajarem-se nas causas de luta pela amenização das mazelas da desigualdade, da miséria, do racismo, do desrespeito à diversidade e da opressão. 

E ter alguém como Richarlison como o novo ídolo da seleção brasileira não apenas acalma os corações de pessoas nos campos progressistas que são, assim como a grande maioria dos brasileiros, amantes do futebol, mas também traz de volta às mãos de todos os brasileiros e brasileiras os símbolos usurpados por uma minoria extremista e ultra-conservadora: a bandeira e as camisetas verde e amarelas.  

E a normalidade vai então voltando em todas as dimensões do gigante Brasil, e porque seria diferente no futebol- esta paixão nacional que subjaz ao espírito de cada brasileiro, do mais simples ao que ocupa o alto escalão da sociedade?

Eis que com o brilho encantador de Pombo, o menino que saiu da favela, sofreu racismo e se tornou uma das principais vozes de combate à esta mazela, além de ter militado em prol da vacina quando a maioria de seus colegas andava sem máscara de proteção à Covid- até tornou-se mais “tolerável e suportável” a presença daquele que prometeu homenagear o desgoverno derrotado em seu primeiro gol da Copa, mas que, por ironia, acabou ficando de fora da primeira fase- Neymar.

É Neymar, o seu gol em homenagem ao golpismo não saiu. Ao invés disso, o destino guardou uma sorte melhor para os brasileiros e brasileiras: estes puderam assistir ontem o emergir de uma nova geração futebolística potente, encarnada na figura do engajado Richarlison. Mas pense pelo lado bom nobre atacante, se não fosse por isso, o Brasil não amanheceria hoje com este brilho diferente, já liberto da recente e angustiante dúvida sobre se veste ou não a tal camisa amarela, afinal de contas, finalmente o verde e o amarelo voltaram a ser de todos nós.

Ju Abe- cantora, compositora, graduada em Filosofia e estudante de Letras/Inglês pela UFPA.

Deixe uma resposta