Ponto do Bacuri para retirada das Bicicletas Douradas na praia da Saudade (créditos: Joyce Ferreira/ Comus)
“É uma bênção essa bicicleta pra nós que trabalhamos aqui. Às vezes, a gente quer fazer um serviço rápido, ir lá na feira, comprar algumas coisas. Eu uso quase todo dia. É muito bom, adorei mesmo esse projeto”. A declaração do carregador Jonas Espírito Santo Cardoso expressa a satisfação dos moradores da ilha de Cotijuba com o Plano das Bicicletas Douradas, que disponibiliza os veículos gratuitamente para o uso dos moradores da ilha, desde dezembro de 2022.
O Plano das Bicicletas Douradas surgiu da união de moradores de Cotijuba com integrantes do Coletivo ParáCiclo, que promove a cultura da bicicleta e da mobilidade ativa. A iniciativa recebeu esse nome baseado em registros históricos da ilha, considerando que estudiosos apontam como primeiros habitantes do local o povo Tupinambá, que denominou a área como Cotijuba (trilha dourada ou caminho dourado), por causa da cor do solo que compõe a ilha.
Parceria – A iniciativa tem o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e conta com a parceria do Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB) e do Ecomuseu da Amazônia da Fundação Escola Bosque (Funbosque) da Prefeitura de Belém.
A ideia surgiu a partir de um diálogo com a comunidade, iniciado com os moradores da localidade de Pedra Branca, que já vinham tentando implantar um projeto semelhante, e integrantes do Coletivo ParáCiclo.
O Plano é coordenado pelo professor Murilo Rodrigues, que é integrante do Coletivo ParáCiclo e coordenador do Ecomuseu da Amazônia. Ele explica que há uma carência de transporte público na ilha e muitas pessoas precisam se deslocar muito tempo a pé ou gastam com transporte de moto, motorretes ou do único bonde que serve a ilha, que é uma área de proteção Ambiental, onde vivem cerda de 10 mil moradores e é proibida por lei a presença de carros.
“O uso da bicicleta facilita o deslocamento, principalmente, ao mercado, feira, ida ao posto de saúde. São deslocamentos que a comunidade que mais precisa tem essa possibilidade de economizar tempo e dinheiro”, explica o professor.

Mudança climática
Segundo o professor Murilo Rodrigues, há também uma motivação ecológica, já que houve uma explosão do uso de motocicletas na ilha, a partir da década de 1990, aumentando a poluição de fumaça e da poeira que levantam nas ruas, assim como a poluição sonora. “Parte da comunidade percebe que é importante reduzir o uso motorizado e retomar ao uso da bicicleta”, afirma o professor, que concluiu recentemente o mestrado abordando um tema voltado para este assunto.
A ideia, segundo Murilo Rodrigues, é repensar o “uso predatório que o sistema capitalista impõe”, seduzindo os jovens “pela motorização para ter sensação de poder” e marginalizando a bicicleta. “A bicicleta pode ser um agente transformador, anticapitalista, um agente de transformação social. Um agente que vai contribuir para reduzir as mudanças climáticas”, afirma Murilo Rodrigues.
Para a professora de Educação Física Rita Marley, o Plano das Bicicletas Douradas “além de melhorar a parte ambiental, é também muito bom para melhorar a parte cardiopulmonar”, pois contribui para a saúde dos moradores da ilha que usam as bicicletas.
Turistas pagam
A proposta é de que os moradores da ilha usem gratuitamente as bicicletas num prazo médio de duas horas e as devolvam. Para os turistas é cobrada uma taxa de R$ 10, visando a manutenção das bicicletas que são doadas pelos próprios moradores locais e por empresas, como o Hotel Farol e a Pousada Quarto Crescente.
O Plano começou a ser implantado na Unidade Pedagógica Faveira, vinculada à Escola Bosque, com nove bicicletas. Hoje, esse meio de transporte corresponde a 19 veículos.
Os pontos de empréstimo que eram nove também foram ampliados para 11:
1. Ecomuseu;
2. Pousada Farol;
3. UP Faveira;
4. Bacuri;
5. UP Flexeira;
6. Mercadinho Honorato;
7. Pousada Quarto Crescente;
8. Mirante da Pedra Branca;
9. UP Seringal;
10. Hospedaria Ponta da Flexeira; e
11. Pousada Grão.
Texto: Raimundo Sena, via Agência Belém